Em busca do gim perfeito

Por Bell Gama

Quando eu achava que já havia tomado todos os goles possíveis desta sedenta vida de solteira, amado todos os homens que o meu coração poderia aguentar e sofrido todas as ressacas imagináveis, eis que surge um gajo em plena paulicéia desvairada e me pergunta:

-Tu gostas de gim?

Esfreguei os olhos e tentei raciocinar o que ele havia me perguntado, separando a frase sílaba por sílaba na minha mente. Pensei naquele sotaque (“tu que tens sotaque, ele diria…) e já senti o que estava por vir: dois novos amores.

Meu segundo pensamento foi: esse português é bem louco, tá me dando mole e gosta de bebida de “velho”. Coitada de mim, ledo engano. Mal percebia eu que ele sabia mais de mim e de gim do que eu poderia imaginar.

“Gim bom é aquele que se toma em taça bojuda, que está previamente gelada, para sentir o cheiro de flor… Sabes que cada gim é feito de uma mistura diferente de essências e por consequência a combinação é única: uns com limão, outros com pepino… A tônica deve ser colocada lentamente, se possível, a partir da ponta de uma grande colher. E, por favor, nunca bebas gim de canudinho. Isso não existe.”

Assim me viciei na busca pelo gim perfeito.

Mas essa primeira noite não foi meu primeiro gim, que foi tomado no Riviera Bar (Av. Paulista, 2584), local do meu coração, que frequentava antes de seu fechamento prematuro, já que ficava no térreo do prédio onde amigos meus construíram a república mais saudosa da Paulista. Hoje, reaberto graças às mãos do subversivo Facundo Guerra, o Riviera recebe todas as noites um bom número de pessoas a fim de um bom drink e um delicioso cardápio. Lá, minha dica é o “Tanqueray Tonic”, o clássico com gin Tanqueray, St Pierre Tonic, um toque de limão-siciliano e zimbro (R$32). Se você é um iniciante no prazer de degustar um bom gim, lá é um bom local para começar. Além de um excelente custo-benefício, tem a facilidade de poder se sentar no lindo balcão vermelho (só ou acompanhada) e conversar com o pessoal do bar que é extremamente atencioso e poderá te explicar o que é o zimbro.

Originado na Idade Média, inicialmente com fins medicinais,o gim tem ganho adeptos pelo Brasil e pelo mundo

 

Depois de conferir um clássico em um local icônico de São Paulo, é preciso  mergulhar no underground e desfrutar o prazer de se estar em uma galeria dos anos 50 em pleno centrão de São Paulo com uma das melhores taças de gim da cidade na mão. Este é o pequenino Mandíbula que fica no segundo andar da Galeria Metrópole ( Praça Dom José Gaspar, 106 – 40 ). Ao chegar lá você será agraciado por um som incrível tocado a partir de vinis. E a pedida não pode ser outra: Gim Tônica feito com o escocês Hendrick’s, três rodelas de pepino e um toque de bitter de laranja. (R$28,00).

Se a sede ainda não tiver acabado, vale a pena subir mais um pouco e parar no Armazén Alvares Tibiriçá (R. Marquês de Itu, 847 ),no “Baixo Higienópolis”, lugar onde encontram-se os mais descolados bares da atualidade. Se quiser provar algo além do clássico, experimente o “Fresh Basil” (R$ 27), aromatizado com folhas de manjericão e melancia. Por lá, há diversas opções de gim, mas vale a pena experimentar o Bulldog, icônica garrafa com líquido preto. (Dica: se estiver com fome, dê uma caminhada de dois quarteirões na mesma rua e pare no Ugue’s, um boteco que desde 1968 faz o melhor PF do mundo – pode chamar pelo garçom “Fino” e dizer que indiquei, se você se esqueceu, sou a Bell Gama, prazer).

Para fechar a busca incessante pelo gim perfeito, vale a pena experimentar a versão com morangos e Hendricks do Raw Burguer (Rua Aspicuelta, 176). Refrescante e ideal para uma tarde de sábado na Vila Madalena. E claro, peça também as deliciosas batatas-fritas cortadas no bandolim.

E se você leu este texto até aqui é porque ou é apaixonado por gim como eu ou porque quer saber o que aconteceu com o português. O caminho do gim perfeito já está aí. Jogue-se. Já o português, lá do outro lado do oceano deve estar degustando uma bela taça de gim, e infelizmente, fim.

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