Adriana Katekawa: ponte aérea Brasil-EUA

Formada em Relações Internacionais e com pós graduação em Administração, Adriana Katekawa trabalhava com inteligência de mercado para a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), órgão estatal que trabalha para aumentar a participação do Brasil no comércio exterior. Em 2013, resolveu fazer um curso de gastronomia enquanto o marido fazia seu MBA. Foi paixão à primeira vista: Adriana ficava até 14 horas na escola, estudando, testando receitas. Aprimorou sua técnica em um estágio no DOM, de Alex Atala, e agora está em Boston onde se tornou empreendedora com a empresa Personal Chef. A seguir os principais trechos da entrevista:

 

 

PISANDO EM UVAS: Você cozinhou no Brasil em grandes restaurantes, como o Dom. Como foi essa experiência em trabalhar em uma cozinha estrelada pelo Guia Michelin?
ADRIANA KATEKAWA: Foi uma experiência incrível e um sonho realizado. Desde que estava estudando culinária, já tinha como objetivo realizar meu estágio no DOM ou no Mani. A cozinha com foco em ingredientes locais,  técnicas da alta gastronomia e apresentações contemporâneas sempre me encantou. Eu queria colocar em prática tudo aquilo que havia estudado na Le Cordon Bleu, mas explorando os ingredientes brasileiros, aprendendo a execução impecável de restaurantes renomados e vendo de perto a concepção de um prato a partir da criatividade e conhecimento de chefs pelos quais tenho grande admiração. Quando voltei para São Paulo depois de terminar o curso de dois anos em gastronomia, fiz o estágio de três meses na cozinha de produção do DOM (tanto na cozinha quente quanto na confeitaria). Depois do meu período de estágio, fui contratada e fiquei por um ano na área de confeitaria. Acho que o mais interessante dessa experiência foi poder vivenciar tudo que os chefs da escola tentavam me passar na teoria, pequenas dicas como “tenha sempre um senso de urgência”, “consistência é tão importante quanto a perfeição do prato”, “trabalhe duro e com inteligência”. Acho que esses aprendizados somente são possíveis no dia a dia de uma operação de grande responsabilidade.

PISANDO EM UVAS: Por que você decidiu cozinhar? Desde criança vc tinha amor pela cozinha?
ADRIANA KATEKAWA: Eu sempre gostei de estar na cozinha ajudando minha mãe. Ela sempre cozinhou bastante, e muito bem. Eu achava mágico ver como algumas batatas, farinha e ovos podiam ser transformados em pãezinhos deliciosos que preenchiam nossas tardes! Mas nunca imaginei trabalhar com isso. Sou formada em Relações Internacionais  na USP, fiz Pós-graduação em Administração (FGV) e trabalhava com Inteligência de Mercado para um projeto da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). Em 2013, decidi estudar gastronomia enquanto meu marido fazia seu MBA e me apaixonei pela área. Ficava até 14 horas na escola, estudando, praticando, testando receitas, aprendendo com os chefs e colegas. Cheguei até a participar de competições na Federação Americana de Culinária representando a Le Cordon Bleu de Boston. Depois de conquistarmos a medalha de ouro no prêmio regional, fomos competir na premiação nacional na qual recebemos a medalha de bronze. Acho que foi uma oportunidade maravilhosa para me desenvolver na área e tive muita sorte de poder contar com a ajuda de um chef mentor que realmente me ajudou a ir para um nível mais elevado, num processo de treino e feedbacks constantes. Foram dois anos muito intensos de aprendizado nesse mundo que era tão familiar pela cozinha da minha mãe mas que ainda era muito novo entre termos franceses e toques (os famosos chapéus de chefs). A gastronomia para mim tem uma grande vantagem: tem sempre uma técnica, uma cultura, um conceito novo pra aprender. E isso me fascina! Quando saí do DOM e fui como Chef e Food Stylist para o Estudio Gastronômico, descobri um mundo totalmente novo na área de comida. Era o “comer com os olhos” mesmo! Fazer a comida para fotos e vídeos, pensando unicamente no seu elemento visual. Em paralelo, comecei a trabalhar como consultora em desenvolvimento de receitas. Também me encanta o poder da criação e da experimentação desse trabalho, e do seu resultado sensorial, sentimental e nutricional.   No fim, acho que é também, pra mim, a melhor forma de cuidar do outro, de receber, de retribuir, de contribuir…

PISANDO EM UVAS: Por que você decidiu ir para os Estados Unidos?
ADRIANA KATEKAWA: Depois de ter tido todas essas experiências, sentia que eu queria mesmo ter meu próprio negocio. Boston, além de ser a cidade pela qual entrei nesse mundo da gastronomia, tem a indústria de restaurante que mais cresce per capita nos EUA. Ainda é considerada a melhor cidade para lançar uma start up e tem um histórico forte de produtos da indústria alimentícia. Coincidentemente, a empresa em que meu marido trabalha abriu um escritório na cidade e decidimos voltar.  Com Harvard e MIT, inovações e discussões sobre o tema de segurança alimentar, agricultura sustentável, inovações na indústria de alimentos e em toda sua cadeia estão constantemente gerando novas ideias e iniciativas. E eu queria estar perto de todo esse conhecimento e poder aproveitar minha rede de contatos aqui (inclusive o apoio do meu chef mentor) para aprender sobre temas que me interessam relacionados à gastronomia saudável e sustentável. Hoje tenho minha empresa de Personal Chef e, além de dar aulas, trabalho com desenvolvimento de receitas e coaching de clientes que queiram incorporar um estilo de vida mais saudável por meio da alimentação.

PISANDO EM UVAS: Como é cozinhar nos Estados Unidos e no Brasil? Quais as diferenças no relacionamento com os fornecedores e com os clientes?
ADRIANA KATEKAWA: Por questões culturais, o relacionamento tanto com fornecedores quanto com clientes, a meu ver, é mais flexível no Brasil do que nos Estados Unidos. Acho que no Brasil também existe maior espaço para negociação e customização, já que o relacionamento pessoal influencia bastante no negocio, diferente do que ocorre nos Estados Unidos. Acho que no Brasil existe sempre espaço para aquele “voto de confiança” depois de uma conversa informal, o que aqui dificilmente acontece. Por outro lado, as regras do jogo são mais claras, o que propicia relacionamentos mais estáveis, previsíveis, passando maior confiabilidade e segurança nos modelos de gestão e parcerias.

PISANDO EM UVAS: Em relação à comida saudável, os Estados Unidos buscam enfrentar dois problemas de saúde que têm causado prejuízos: diabetes e obesidade. Os americanos estão mais preocupados em comer melhor? O Brasil está mais atrasado em relação ao tema?
ADRIANA KATEKAWA: Os dados de obesidade e doenças relacionadas como diabetes e problemas de coração são bastante preocupantes nos EUA. Ainda que exista maior interesse em relação à alimentação equilibrada e à oferta de alimentos “saudáveis” esteja crescendo bastante, acredito que a grande maioria da população não tenha acesso a esses benefícios. Diversos estudos mostram a relação do crescimento de taxas de obesidade das ultimas décadas com o aumento das porções “padrões” de restaurantes, o aumento do consumo de xarope de milho com alto teor de frutose inserido em alimentos processados e o consumo em cadeias de fast food. A preocupação com a alimentação pode até existir mas restrições financeiras, maior oferta de alimentos processados comparada a de produtos frescos e ate mesmo a informação proveniente da indústria de alimentos (que muitas vezes confunde o consumidor ao utilizar-se de selos como “integral”, “baixa caloria”, “vitaminas e minerais”)  dificulta muito a incorporação de hábitos que de fato sejam saudáveis por grande parte da população.  Acredito que o Brasil não tenha uma cultura de consumo de alimentos processados ou de fast food tão fortes como a dos EUA e, aos poucos, as inovações da indústria de alimentos saudáveis que já estão disponíveis aqui estão chegando ao Brasil. Também vemos que as tendências mundiais na área da gastronomia funcional e saudável, como a alimentação plant based, o uso dos chamados “super alimentos”, cozinha raw e opções sem gluten e sem lactose estão sendo refletidas no mercado brasileiro.

Mais sobre Adriana: http://adrianakatekawa.com/ 

 

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