Dez vinhos emocionantes

Por Gerson Lopes

Mantendo a tradição, volto a compartilhar a minha lista dos melhores vinhos do ano de 2018, degustados por mim. A maioria dos críticos de vinhos publica em seus blogs ou revistas especializadas a sua seleção dos melhores no final de ano, porém prefiro publicá-la depois da virada do ano. Como não ganhei ainda na loteria, tive de contar com amigos muito generosos para provar estas preciosidades líquidas. Aproveito e externo minha gratidão a todos eles, que de algum modo trouxeram momentos de imensa alegria não só a minha pessoa, mas a todos os presentes. Afinal, vinho é alegria de viver! E na vida, alguém já disse e concordo plenamente, que a “gratidão é a memória do coração”.

 

1.CHÂTEAU CHEVAL BLANC 1949

 O melhor vinho de uma prova de “Bordeaux dos sonhos” que acabou sendo o meu número um em 2018. Encantou com a sua vitalidade em seus quase 70 anos. Hortelã, mineral, cerejas em compotas, toques balsâmicos e terrosos, na boca taninos ultra polidos, refinamento, elegância e final de boca sem fim. Ao prová-lo, Parker chamou a atenção que este poderia superar o mais pesado, mais denso e exótico que o 1947. “A sensação de Cabernet Franc é muito expressiva e há altivez e denodo no acabamento inspirado na margem esquerda”, disse Neal Martin, quando o bebeu em fevereiro de 2014, quando ainda estava resenhando para o site de Robert Parker (hoje está na Vinous, de Antonio Galloni). Não por acaso foi confundido por muito dos presentes naquela prova, como sendo o mítico Mouton Rothschild 1945. Interessante dizer que a safra 1949 foi difícil resultando em uma colheita muito reduzida. “The Cheval Blanc ‘49 nailed it!!”

2.CHÂTEAU HAUT BRION 1989

 Bebido poucos dias antes do fim do ano, ainda o tenho muito fresco na memória. Já tive a oportunidade de prová-lo outras vezes e em todas mostrava-se majestoso, porém fica evidente que sua evolução na garrafa o vem aproximando da perfeição. “Grande combinação de riqueza e energia”, observa Jancis Robinson, acenando ainda na melhora significativa com o evoluir na taça. Isso é próprio dos grandes vinhos e foi bem percebido por nós, pois foi crescendo e muito no final da prova. Tudo que mostrava no início, tais como: aromas em camadas – frutas (cerejas em calda), floral (violetas), grafite, terroso, azeitonas e, sabores também complexos foram sendo potencializados enormemente, até que chegou ao fim. E o “fim é a dor”, como dizia meu guru W. Alvarenga. Em junho de 2018, Neal Martin o provou e enfatizou ser “um Haut Brion inspirador que está apenas começando a demonstrar as alturas etéreas que pode alcançar”, prevendo maturidade até 2060. Wow!!!


3.CHÂTEAU MOUTON ROTHSCHILD 1945

 Considerado um dos “12 Melhores Vinhos do Século XX” pela prestigiosa revista norte-americana Wine Spectator em sua edição de janeiro de 1999, o mítico Mouton Rothschild 1945 foi o segundo na preferência na inesquecível prova de Bordeaux dos sonhos. Algo doce nos aromas e sabores, porém incrivelmente fresco mostrando sua marca característica – toque de eucalipto ao nariz (pista que me fez acertar qual seria). Os críticos não economizam adjetivos: “verdadeiramente um dos vinhos imortais do século” (R. Parker); “tão grande e rico como cauda de pavão” (J. Robinson) e “um vinho de beleza hipnótica …” colocou Neal Martin, que disse ter tido dois encontros com este lendário vinho e em ambos se mostrou magnífico. Neste último, em junho de 2018, foi enfático: “este vinho sempre vai além da satisfação sensorial para alcançar algo magistral, orgástico e intelectual”. É daqueles vinhos para entrar em seu currículo vitae. Um sonho materializado!

4. DOMAINE ROMANÉE CONTI LA TÂCHE GRAND CRU 1978

A safra 1978 em Bourgogne é considerada mítica e provar este vinho raro e caro é algo indescritível por palavras, mas não custa nada tentar, então vamos lá: cor e aromas, como era de se esperar de um vinho já maduro, afinal, tinha 40 anos.  Sedutor com seus aromas de frutas vermelhas, trufas brancas, cogumelos, especiarias doces e na boca era de uma expressividade ímpar. Belo exemplo de um vinho que está evoluindo com nobreza fazendo justiça ao que disse Hugh Johnson sobre este famoso Grand Cru e Monopole do DRC – “um dos maiores vinhedos sobre a Terra”. Até hoje tive oportunidade de provar três vinhos antigos de La Tâche que me impressionaram muito: o 1953, o 1966 e o 1978 que já tinha provado em 2014. Em vinhos velhos, particularmente de Bourgogne, temos que torcer para encontrarmos uma garrafa perfeita, em seus melhores dias. E foi o que aconteceu com esta garrafa. Sublime!!!

5. CONTERNO BAROLO MONFORTINO RISERVA 1952

 Giacomo Conterno foi um dos ícones de sua geração e Monfortino trata-se de uma marca de referência deste genial e lendário produtor. Seu Barolo Monfortino – que apesar do nome provém da comuna de Serralunga – é o sonho de todos aqueles que apreciam a escola tradicionalista. É o vinho mais emblemático do Piemonte. Sua grande longevidade é famosa, tanto que, quando perguntaram a Giacomo Conterno que vinho levaria em seu “leito de morte”, não titubeou – “com certeza, o Monfortino 1990”, pois esperava ser tão longevo quanto. Na minha humilde opinião, acredito que o Monfortino que envelhece bem é o Riserva, pois a minha experiência com os não reservas ’52, ’61 e ’64 é que evoluem demasiadamente para um “Port like”. No Riserva 1952 tive uma aula de Barolo que envelheceu com altivez em seus 66 anos. É assim que gostaria de envelhecer!!!

6. CHÂTEAU MARGAUX 1990

Já tive a sorte de prová-lo muitas vezes graças a amigos generosos e cada vez mais tenho a certeza de sua grandiosidade (palavra que serviria aos dois – vinho e amigos). A última vez foi em julho de 2018 e deu para perceber como o Margaux 1990 ainda tem muitas pernas para andar. Uns críticos falam em maturidade até 2030, outros estendem a 2040, porem meu conselho é de bebê-lo agora, caso o tenha em sua adega, pois no momento já está admirável. Afinal, não sabemos o que nos espera o amanhã. O que sempre me chamou a atenção ao beber o Margaux 1990 foi o charme, finesse e elegância em suas amplitudes máximas. “A nota superior na mineralidade, a pureza da Cabernet Sauvignon” foram o que chamou a atenção do Château Margaux 1990 pela Jancis Robinson, acrescentando ser “delicado e etéreo” e sua “textura na boca de cashmere e seda”. Para Neal Martin “é o tipo de nariz no qual você simplesmente mergulha”. Fora de série!!

7.HERMITAGE LA CHAPELLE 1978

Nesta época o domaine ainda era de Paul Jaboulet Aîné. Excepcional vinho em grande safra. Já o provei mais do que mereço, e sempre foi soberbo, encantador, perfeito. Para alguns amantes deste vinho, o 1978 poderia vir a ser no futuro o mítico 1961, muito caro e objeto de desejo de colecionadores. Ainda mostra frutas, quase doces, muito alcaçuz, tostado e especiarias. Final de boca interminável! Deve continuar a envelhecer bem por muitos e muitos anos, em que alguns críticos preveem maturidade até 2040. Porém, vale “escutar” Jeb Dunnuck, na época (2015), o responsável na Wine Advocate (R. Parker) pela região do Rhône quando diz “não ver razão para adiar sua prova, pois hoje está bebendo perfeitamente para o meu paladar, mas certamente não vai cair de um penhasco tão cedo”. “Muito bom, rico e atrevido”, diz Jancis Robinson ao prová-lo a última vez. Fabuloso!

8.DOMAINE LEFLAIVE MONTRACHET GRAND CRU 1995

Provado às cegas com mais quatro excepcionais vinhos na temática “Grandes terroirs de brancos na Bourgogne”. Ganhou por unanimidade pela preferência. Diga-se de passagem a questão de preferência é muito controvertida, pois tem caráter muito subjetivo e estamos falando de muitas coisas diferentes como terroir, safras, etc. Porém, agindo assim a brincadeira torna-se mais prazerosa, pois afinal, não se trata de uma degustação técnica e, sim, lúdica. Às cegas, fiquei procurando o toque oxidativo que podemos encontrar em um Montrachet de Leflaive. E neste só tinha elegância, tão grande quanto seu Chevalier-Montrachet, porém sem a delicadeza deste. Combinava de maneira fantástica potência e elegância, além de um toque mineral, que dava mais frescor a ele. Longa guarda pela frente. Um vinho perfeito, ou se fosse possível, mais do que perfeito!

9.DOMAINE COCHE-DURY CORTON-CHARLEMAGNE GRAND CRU 1993

Confundido por muitos, inclusive por mim com o Montrachet 1995 de Leflaive, o Corton-Charlemagne 1993 de Coche-Dury foi eleito em preferência por todos os presentes como o segundo melhor. De acordo com Clive Coates, talvez o maior conhecedor de vinhos de Bourgogne, ao se referir ao Coche-Dury, diz tratar-se de “um dos melhores domaines de vinho branco do mundo”. Conseguir um de seus Corton-Charlemagne, bem como seu Meursault Perrières, é algo muito especial e difícil, pois são raros e caros. Realmente sou muito sortudo de ter um amigo amante de vinhos brancos que me possibilitou tomar em outras vezes os dois vinhos de Coche-Dury. Ouça o conselho de Eric Verdier – dégustateur de nectars – ao falar de um Corton-Charlemagne de Coche-Dury: “Se você tiver a chance, um dia, de provar uma das raríssimas garrafas dessa jóia líquida, não tente entendê-la, muito menos analisá-la, mas esteja atento à sua mensagem misteriosa que vem de um tempo distante, o da criação do universo, outro mistério que também transcende a compreensão frágil e muito incompleta dos homens”. O que dizer mais?

10.BRUNELLO DI MONTALCINO SOLDERA RISERVA 1997

 Provado às cegas na “degustação vertical do ano”, se não soubesse que se tratava de um vinho de Soldera, duas perguntas poderiam ter sido feitas: um grande Bourgogne Grand Cru? Ou um Barolo ou Barbaresco de um produtor top da escola tradicional piemontesa? Nem um, nem outro e sim uma “assemblage” de tudo isso com o toque único de Soldera. Para alguns críticos “Soldera não é brunello, Soldera é Soldera”, eu diria que “Soldera é Soldera, os outros são brunellos”.   Estamos falando de um dos mais procurados vinhos do mundo, cuja pequena produção esgota rapidamente, tão logo sai ao mercado. Todos os seus lançamentos,  independente da safra, seja grande ou não, vêm carregados de emoção. Este Soldera 1997 estava fenomenal!!!

Gerson Lopes é criador da escola de vinho “Wine & Joy” (instagram/winejoy_gersonlopes)

 

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