Brions, mitos franceses

@pisandoemuvas

A produção de vinhos na França tem alguns mitos que pairam no lugar mais alto da constelação de estrelas que posicionam o hexágono como o terroir mais cobiçado do planeta vitis. Em uma terra de tanta tradição e de tantas histórias, em Bordeaux, a primeira estrela no firmamento chama-se Haut-Brion. Embora com as primeiras vinhas plantadas em 1423, lá se vão quase 500 anos, quando o vinho despontou em 1525, sendo reverenciado nas cortes inglesas da época e a partir dele promovendo-os pelos quatro quantos do mundo.
Na polêmica classificação de 1855, o único fora do Médoc fazendo parte do seleto grupo dos cinco primeiros da lista era o Haut Brion, cuja localização é muito particular, nos subúrbios da cidade de Bordeaux. O terreno localiza-se a 27 metros acima do nível do mar com camadas profundas de cascalho importantes e bem posicionadas. Areia e argila predominam no solo, favorecendo o bom desenvolvimento da Merlot, cepa de grande importância no corte, pareando a composição com a robusta Cabernet Sauvignon. Pequenas parcelas de Cabernet Franc e Petit Verdot completam a sinfonia. Esse corte favorece tanto a maciez e sensualidade de aromas, como a precocidade do vinho, sem aquela austeridade típica dos tintos do Médoc, sobretudo quando novos. Evidentemente, é peça importante e principal na tradicional classificação de Graves de 1959, juntamente com seu concorrente direto e vizinho ilustre, o destacado La Mission.

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Outra particularidade importante é sua versão homônima em branco. Praticamente uma unanimidade, é o melhor branco seco entre todos os Bordeaux, balanceando de forma magistral as uvas Sémillon e Sauvignon Blanc, fermentadas em barrica. O vinho permanece nas barricas (50% novas) entre 9 e 12 meses. É bom lembrar que as vinhas para esses vinhos brancos somam menos de três hectares (2,87 ha), contra 48 hectares para os tintos. Sem mais delongas, vamos aos vinhos.
Haut Brion está com o domaine Clarence Dillon desde 1935. A família, do príncipe de Luxemburgo, ampliou sua constelação de estrelas, ao adquirir em 1983 o vizinho ilustre, quase de frente: La Mission Haut Brion, um dos chateaux mais reivindicados para ocupar a posição de Premier Grand Cru Classé. Embora seja um chateau de Graves, mais especificamente de Pessac-Léognan, fica difícil manter só o Haut Brion, seu rival vizinho, como exceção na lista dos grandes do Médoc.
Segundo a crítica especializada, inclusive Parker, La Mission Haut Brion tem um estilo mais potente que seu arquirrival Haut Brion com maior estrutura tânica, sobretudo. Sua area de vinhas tintas é 25,44 ha (48% Cabernet Sauvignon, 41% Merlot e 11% Cabernet Franc). São 5000 a 5600 caixa por ano. 100% carvalho novo com 22 meses de maturação. Aqui outra particularidade: a produção dos melhores brancos de Bordeaux ao lado de Hautr Brion. Em uma área de vinhas brancas de 3,74 ha (63% Sémillon e 37% Sauvignon Blanc), são 550 a 650 caixas por ano. 100% carvalho novo de 13 a 16 meses de maturação. Vale lembrar que a partir de 2009 passamos a ter o La Mission Haut Brion Blanc, até então conhecido como Laville Haut Brion.
Não bastasse ter duas estrelas em Bordeaux, a família decidiu expandir seus tentáculos à margem direita, mais espeficamente em Saint Émillion, com a aquisição do Chateau Tertre Daugay, que no início dos anos 1900 tinha suas uvas mais valorizadas que o Ausone. A propriedade foi rebatizada de Quintus e, com duas aquisições posteriores de propriedades vizinhas, soma hoje 45 hectares. Produz um saint emillion de ótima qualidade, com mineralidade.
Uma particularidade: a família Delmas, há 3 gerações, cuida da parte enológica dos vinhos de Clarence Dillon. Não se contrata assessoria externa, uma prática recorrente em Bordeaux, seja em grandes, seja em menos conhecidos.
Na degustação da Clarets, tivemos a oportunidade de degustar:
Dragon de Quintus – safra 2013, 57% de merlot, 30% de cabernet franc e o restante de cabernet sauvignon, 25% de madeira nova. Leve couro, toque de violeta, vinho mais em conta de uma família mítica bordalesa.
Quintus 2013 – Especiarias com uma mineralidade ao fundo, toques mais terrosos. Vinho promissor e que ganhará nas próximas safras.
La Chapelle La Mission 2011 – O Chateau La Tour Haut Brion era um chateau independente ligado ao La Mission. Até 2005, sua última safra, foi considerado tradicionalmente como segundo vinho do La Mission. A partir de 2006, deixa de existir La Tour Haut Brion para ser nomeado o Chateau La Chapelle La Mission Haut Brion como segundo vinho. Safra 2011 foi marcada pela estiagem mais longa em uma primavera, mas aqui mão e terroir fazem a diferença e mostram que até um segundo vinho tem a elegância do La Mission.
Haut Brion 2002 – A safra 2002 foi uma das mais difíceis de Bordeaux nesse século, mas aqui talvez esteja o melhor exemplar desse ano, rival de Latour, que também se sobressaiu. Um vinho elegante, com a maciez do terroir. Um bordeaux de primeiríssima linha com aromas e boca desenvolvidos é uma experiência civilizatória.
Clarté Haut Brion – La Mission e Haut Brion produzem, cada um, cerca de 5 mil garrafas de vinhos brancos em uma safra. Como a produção não é grande, decidiram vinificar em conjunto o segundo vinho – La Clarté, quase um corte meio a meio de sémillon e sauvignon blanc. Belo branco de Bordeaux, elegante, gastronômico, para moqueca. Aqui se mostra por que em brancos Péssac gravita acima das demais.
Santé! Se possível, com Haut Brion ou La Mission!

 

Guillaume marx, diretor de vendas

 

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