Por muitos anos, o restaurante do hotel Emiliano foi um segredo bem guardado. Ali, se comia muito bem, a conta não era alta, o almoço executivo era dos melhores custos-benefícios de São Paulo, os decibéis das mesas ao lado inexistiam, não se cobrava rolha, a carta de espumantes vendia champagnes a preços mais baixos do que os das importadoras, o serviço era impecável, as sobremesas feitas pelo Arno Porto, principalmente com frutas típicas, como a tangerina, eram primorosas. Tudo muda. Nos últimos dez anos, a cozinha passou por modificações: José Barattino deixou as caçarolas depois de longos anos, substituído pelo italiano Stefano Impera, que depois de uma curta passagem deixou o comando para o milanês Andrea Montella.
Montella imprime sua marca clássica no cardápio. Nas entradas, os frutos do mar se destacam, como a ótima salada de polvo defumado artesanalmente com molho de limão siciliano (R$ 50), o fresco tartare de atum levemente apimentado com tomate seco e a delicada (R$ 55), a saborosa lula grelhada com purê de couve-flor e infusão de manjerona (R$ 46) e a ótima vieira caramelizada com uvas passas e alcaparras (R$ 80). De vez em quando, um desses pratos, como o tartare de atum, aparece no almoço executivo de R$ 65, que dá direito ao couvert, entrada e prato principal (escolha entre risoto do dia, peixe do dia e o filé mignon ao molho rôti).
Nos pratos principais, há um passeio por carnes e frutos do mar. Montella comete aqui o melhor ossobuco dessa cidade (se tiver algum melhor, por favor, me avisem). Por R$ 90, guarnecido com ragu de cogumelos e polenta, ele é delicado e saboroso. A codorna recheada com cogumelos e foie gras, servido com risoto de alecrim (R$ 102) pede um grande bourgogne. Nas massas, o gnochhi sardo com ragu de linguiça e brócolis (R$ 75), o excelente parpadelle ao açafrão, trufas negras e pancetta (R$ 86) e o também excelente paccheri com lagostins e molho de tomate com aspargos (R$ 85) são os destaques.
Os preços do cardápio estão mais altos, a carta de vinhos subiu bastante, assim como a de champagnes, cobra-se rolha agora, a taxa de espumante não é mais cortesia, o couvert, mesmo com a mudança dos três chefs, ainda se mantém o mesmo, sem graça. Os decibéis se mantêm baixos, a comida permanece um porto seguro de uma cidade cada vez mais irregular, a parede verde ainda dá seu toque. Tudo muda, mas a cozinha do Emiliano permanece no topo.