As Gerais têm Guimarães, suas veredas e seu sertão, têm Drummond, queijos, porcos cozidos à perfeição. Até pouco tempo atrás, considerava a culinária mineira a mais completa e saborosa do país, entre tutus, farofas, pernis e mexidões, mas uma ida a Belém do Pará, suas ervas e seus peixes, me fez reconsiderar a decisão prematura e dividir a liderança desse fajuto ranking.
Belo Horizonte, concebida inicialmente para se situar dentro do contorno projetado pelos urbanistas, se expandiu e se esparramou. A capital, laboratório do Brasil moderno arquitetado por Niemeyer e engatilhado por Juscelino prefeito e governador, traz na lagoa da Pampulha uma de suas atrações. Depois de andar ao redor dela, se deparar com capivaras, é hora de ir ao Xapuri, criado em um bairro residencial por Nelsa Trombino na década de 1980. Em meio a ruas cheias de casas, fica um dos mais emblemáticos restaurantes de comida mineira do país.
O Xapuri é imenso, recebe milhares de clientes aos fins de semana, que transitam entre a área de lazer e os gigantes salões. As filas de espera podem superar uma hora em datas comemorativas. A razão é simples: a comida é ótima, os preços também. Escolhe-se a carne, geralmente acompanhada de feijão ou tutu, arroz, couve e banana. Pode-se ir de carret ao melaço, de costelinha suína seca e suculenta, lombo assado na panela. As porções são bem servidas e ao fim da refeição ainda pode-se ir atrás das sobremesas típicas feitas lá mesmo.
Proposta diferente é a de Fred Trindade em seu Trindade, criado em 2011 no bairro de Lourdes, os jardins belzontinos. A culinária mineira com toque contemporâneo: o gyoza vem recheado de pezinho de porco e frango caipira, tucupi e picles; o porco prensado por horas vem com farofa de ovos e quiabo tostado. Instigante cardápio, mas entrada e prato principal levariam um cartão vermelho do cardiologista de plantão, pelo excesso de sal em ambas as preparações.
Na Savassi, fica o Café com Letras, que mescla livraria, café, restaurante e espaço musical em que alguns dias da semana há shows de jazz e de chorinho, o que atrai muita gente para ficar na calçada. O cardápio muda de acordo com as opções do mercado. Um ótimo purê de mandioquinha fez par com um frango caipira e quiabo por R$ 32. Ambiente e comida legais.
Perto do clube da esquina, em santa tereza, fica o bar do Orlando, que em 2019 completa 100 anos. Em endereço tombado e um dos mais antigos em funcionamento no país, o boteco atrai jovens pelo ótimo cardápio de porções generosas e pela cerveja gelada. O boteco é comandado há quase 40 anos pelo seu Orlando, que comprou o bar de seu tio. Com um minúsculo espaço interno, que abriga um pequeno balcão, seu Orlando coloca mesas na calçada, sempre lotada de segunda a segunda.
Para não dizer que não falei de vinhos, os mineiros têm à disposição a rede Nosso Gourmet de supermercados, em que há importação de vinhos exclusiva, com rótulos escolhidos pelo médico enófilo Gerson Lopes. Pelas gôndolas, podem-se deparar com vinhos de Bruno Giacosa ou de Raul Péres, a preços bem convidativos.