Tempo, distância, esquecimento são os principais substantivos usados para deixar um restaurante de lado. Prefere-se a comodidade da moqueca que fica a duas quadras, a rapidez do serviço do escondidinho da esquina, esquecem-se algumas mesas em detrimento de outras às vezes apenas pelo hábito e comodidade. É assim comigo e com o Tordesilhas, há duas décadas na alameda Tietê, cozinha de Mara Salles, uma das precursoras da valorização da gastronomia brasileira em terras paulistanas desde 1985 quando abandonou o cargo de secretária do banco Itaú e se aventurou no Roça Nova, no bairro de Perdizes.
https://www.youtube.com/watch?v=E9-f0O9aQbo
Fazia tempo que não pisava nessa casa nos Jardins, que ainda mantém uma boa carta de vinhos, em que pinçamos um dos vinhos de entrada de Anselmo Mendes, o gênio português que elevou o alvarinho e a loureiro a outro patamar. De entrada, escolhemos uma boa casquinha de siri de Ilhéus (BA) e um excelente arrumadinho à moda de Pernambuco, com feijão de corda, carne-seca, farinha e vinagrete.
Entre os pratos brasileiros que mais gosto está a moqueca capixaba, que aqui serve duas pessoas, demora uns cerca de 40 minutos para vir e chega esfumaçante pela mesa, arrebatando a curiosidade e o olhar das mesas ao lado. O arroz branco soltinho, o melhor pirão de São Paulo, o peixe cozido na hora, o caldo na medida certa, tudo conspira a favor. Dúvida: há alguma moqueca melhor em São Paulo? Cartas à redação, no estilo Ancelmo Góis.
Mara Salles é uma das ótimas cozinheiras desse país. Trabalha com comida regional, ingredientes frescos feitos na hora. Parece simples, e é, mas são poucos os que seguem essa trilha e obtêm resultados tão bons, que fazem com que, ao sair do restaurante, se fique com vergonha de esquecer esse endereço e de dizer a si mesmo que o restaurante perto de casa (Consulado Baiano) oferece uma moqueca desse nível. Ainda bem que a memória ainda serve em alguns momentos.