São Roque fica a 65 km de São Paulo. Distante? Não atesto a distância como impedimento. Primeiro: uma hora de carro da capital paulistana. Segundo: depois que se chega lá a viagem vale tanto a pena que já se pensa em ir lá de nova uma segunda, terceira, quarta…
Para essa primeira incursão em uma das cidades do vinho em São Paulo, tive uma mega sorte: encontrar a guia perfeita. Nada melhor que visitar vinícolas e o terroir de São Roque do que ir com uma sommeliere cuja raízes estão fincadas lá: Innez Santos.
Eu não tinha muito tempo para ficar na cidade. Tinha deixado São Paulo por volta das nove e meia da manhã e chegado a São Roque às onze. Innez catalogou dezenas de opções: uma infinidade de vinhos, uma pista de gelo, dezenas de restaurantes com comida caseira, a linha de trem, um casarão de 200 anos,restaurado, de arquitetura colonial paulista (típica dos Bandeirantes). Inserido no ecossistema, com mata atlântica preservada, há ainda um vinhedo com quase 6000 pés de uvas, divididas entre uvas de mesa e viníferas finas.
As opções me chamavam a atenção, mas Innez disse que, em meio a tantas dúvidas, ela ia sugerir um passeio: visitar a Bella Quinta, de Gustavo de Camargo Borges, uma vinícola que tem ganho espaço nas mesas de restaurantes de São Paulo, sendo oferecido no Dom, no Dalva e Dito. A sommeliere Gabriela Monteleone gostou do que provou e levou os vinhos para os dois endereços em que trabalha. Gustavo se criou em São Roque com uma família que nasceu lá.
O Gustavo é a quarta geração da família e o início da história da produção de vinhos finos, cuja partida se deu em 2005. Em março de 2013, a vinícola foi inaugurada um espaço enoturístico, vinificando no primeiro ano uvas viníferas (Merlot) com a participação de amigos clientes que interagiram na vindima. Na safra de 2014, elaboração de vinhos finos com uvas de São Roque (Cabernet Franc).
Sobre os vinhos da Bella Quinta: como eu tenho uma predileção por brancos, posso dizer que o que provei e gostei do Chardonnay (35 pilas), um vinho obrigatório se gostas de verão e do calor. Nunca achei que pudesse beber algo tão leve e com esse precinho. Nos tintos, o destaque é o Tannat, da safra 2010, com passagem de quatro meses em barrica, um bom exemplar dessa variedade difícil que não rende grandes resultados fora do Uruguai e do sudoeste da França. Quem gosta de suco de uva tem aqui ótimas pedidas.
A visita à Bella Quinta rendeu mais que vinhos e papo: o Gustavo, dono de lá, indicou que fôssemos até a propriedade Ferreira e Passero, que consta do roteiro do vinho da cidade. Lá há videiras e muito mais: uma vista exuberante da cidade, com araucárias ao redor e a mata ainda nativa ao fundo. Chegar até lá tem um quê de aventura, já que não foi um caminho tão fácil para pegarmos de volta à estrada principal do vinho.
Innez, voltamos quando?