Domínio do Açor, uma águia portuguesa em pleno voo

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Dominio do Açor – Pisando Em Uvas

 

 

Há três anos, um grupo de investidores brasileiros resolveu unir a paixão pelo vinho com o trabalho de colocar adiante uma vinícola. Olharam oportunidades na Itália, mas a ocasião se fez presente em Portugal, mais precisamente, no Dão. Guilherme Corrêa, que por anos construiu um portfólio superlativo na Decanter (Valentini, Soldera, Mascarellos etc…) e morava havia algum tempo em Portugal, onde é um dos sócios da distribuidora Temple Wines, descobriu que estava à venda a Quinta Mendes Pereira, situada junto à vila de Oliveira do Conde, com vinhas velhas com mais de 60 anos.
Assinado o cheque, a primeira decisão foi o nome: domínio de açor (ave de rapina e não tem a ver com as ilhas que formam o arquipélago dos Açores). A segunda decisão foi buscar um enólogo. Guilherme gostava do trabalho de Luis Lopes, que estagiou na Borgonha com Dominique Lafon, na Nova Zelândia na Martinborough Vineyards, passou pela Alemanha e depois ficou nove anos na Quinta da Pellada, cujos vinhos brancos e tintos são referência.
Enviou uma mensagem pelo linkedin para Luis Lopes, que estranhou receber a mensagem para conversarem pela rede social corporativa. Marcaram um encontro e acertaram os ponteiros. Para mostrar a ideia do que ambicionava, Guilherme fez uma prova às cegas com Luis e apresentou um branco para o enólogo. “Dá para fazer um vinho desses?”, questionou, depois de mostrar que se tratava do albilo branco do Dominio de Aguila, uma propriedade que tem reescrito a história dos vinhos espanhóis, com brancos, rosado e tintos de exceção, feitos no terroir de Ribeira del Duero.
Com essa referência e a ideia extrair o melhor do solo de origem granítica, a intenção era fazer o Dominio de Açor se tornar referência no terroir, buscando mineralidade, elegância, baixa produção, num estilo bourguignon na terrinha. Contrataram Pedro Parra para o estudo geológico. Um dia antes de abrir os buracos e avaliar o terreno, Parra chamou Guilherme para o quarto. “Guilherme, nós nos conhecemos há muito tempo, mas serei honesto: se o terroir não for bom, eu vou dizer que não vai dar pra fazer grandes vinhos, tá?” Guilherme não dormiu. Pedro ama o granito, considera estes solos entre os melhores do mundo, ao lado do calcário, para lograr vinhos de elegância, frescura e mineralidade. Achou que seria uma moleza.
Acordou com o coração agitado e receoso de que Parra não desse o aval e ele tivesse uma dor de cabeça para repassar aos investidores. Quando Parra, enfiado em um dos buracos, o chamou. Atendeu com o coração na mão. Parra mostrou os quartzos que ficavam à vista. “Aqui dá para fazer grandes vinhos”, disse. Guilherme suspirou. De 11 parcelas, através do estudo de granulometria e condutividade eletromagnética dos solos, Pedro Parra identificou que 55% corresponde a nível Grand Cru de quartzo. “O que faz o grande vinho, a mineralidade não é a pedra, mas a degradação dela ao longo dos milhares de anos”, ensinou a Guilherme. O cuidado com as vinhas foi completado com a contratação de Marco Simoniti, que podou por dez anos as vinhas de Marcelle Bizou Leroy e hoje cuida das videiras do DRC.

A primeira safra foi a de 2021. Os vinhos já estão ganhando a atenção da mídia internacional, mas, principalmente os tintos, ainda estão se acertando. Daqui vão sair vinhos muito mais caros e disputados no mercado mundial.
O Cerceal Vinha Ruína vem de uma parcela de 2,8 hectares com idade de 33 anos. Revela de forma enfática a mineralidade de granito molhado e o lado citrico e de zestes de laranja da casta no nariz. Esse aqui eu colocaria às cegas com o Dominio de Aguila branco. O encruzado é um vinho com sotaque bourguignon, com textura elegante, persistência e a segunda safra mostra um salto em relação à primeira, de 2021. Um branco que crescerá com mais de cinco anos de adega. Nos tintos, o potencial é grande, com um vinhas velhas que chegará a ser um dos grandes vinhos de Portugal.
Em três anos, uma revolução silenciosa se iniciou. Dará o que falar.

 

segue

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