Por Gerson Lopes
Este flight teve o nome de “Bourgognes de tirar o fôlego!” E não tinha como não ser, pois desfilariam para nós seis grandes vinhos tintos desta região que compete com Bordeaux no quesito de região mais famosa do mundo de Baco. Distintos e excepcionais climats, todos Grand Crus, safras diferentes e de dois dos mais célebres produtores, o Domaine Leroy – o La Romanée 1953, Corton 1966 e o Richebourg 1996; e o Domaine Romanée Conti (DRC) com três vinhos de um de seus Monopoles – o La Tâche 1953, La Tâche 1966 e o La Tâche 1990. É de tirar o fôlego!!
Houve quase unanimidade na preferência com o DRC La Tâche 1953. O que dizer desta maravilha de vinho? Vamos lá! Grande expressão de trufas negras, cogumelos, couro, terra, na boca taninos perfeitamente polimerizados e ao mesmo tempo que é delicado mostrava vigor. Em suma, longo, fresco e refinado como poucos Borgonhas velhos que tomei. Provado em setembro de 2014, Neal Martin, agora na Vinous de Antonio Galloni, previu maturidade até 2025.
O climat La Romanée hoje é uma exclusividade do domaine Liger Belair, porém Henri Leroy teve uma exclusividade sobre este minúsculo vinhedo por alguns anos. Perfaz menos de 1 hectare, ou seja, 0,8452 hectares, o que o faz ser o menor vinhedo Grand Cru da França. Infelizmente, o Leroy La Romanée 1953 estava port-like demais, lembrando-me também com um Madeira Bual. Aqui houve unanimidade como o menos preferido da rodada.
O DRC La Tâche 1966 foi avaliado em segundo lugar na preferência. Ao nariz pululavam especiarias como anis e cravo e na boca mostrava uma riqueza ímpar. Jancis Robinson, em prova de agosto de 2007, deu-lhe nota máxima (20/20) e disse que expressava “a essência de La Tâche com todo aquele fungo/cogumelo outonal”. Neal Martin tirou um ponto dele (99/100), não sei onde, pois ao mesmo tempo o considerou abissal. (prova em abril 2015).
O Leroy Richebourg 1996 ficou na preferência em terceiro. Os vinhos deste climat se caracterizam por terem grande estrutura e longevidade. “Pesadões”, porém, de uma riqueza elegante. Frutas negras e minerais. O fato de as parcelas de Lalou Bize-Leroy estarem no setor de Les Verroilles, mais ao norte (maior altitude, clima mais frio), faz de seu Richebourg algo mais fresco (mais acidez) e elegante. E que elegância tinha este vinho! Fenomenal! Aromas e sabores complexos e com longa vida pela frente.
O DRC La Tâche 1990 estava maravilhoso, mas confesso a vocês que esperava mais dele. É um grande La Tâche e faz jus as palavras de Hugh Johnson que considera este vinhedo como um dos maiores do planeta. Sobre o La Tâche 1990, considerada uma das melhores safras não só na França, o próprio produtor, Aubert de Villaine acredita que o 1991 foi melhor que o ’90 e tem a concordância de Parker. “Vinho olímpico, intenso em tudo!” disse Jancis Robinson ao prová-lo no início de 2008, dando-lhe 19,5 pontos em seus 20 possíveis, prevendo maturidade de 2010 a 2030.
Por fim, o Leroy Corton 1966, considerado o melhor Corton tinto da safra. Leroy tem menos de um hectare nesta apelação. Destoava um pouco dos demais (salvo o La Romanée) em cor e aromas. Trazia algo floral e de aguardente de cereja ao nariz. Sabemos que a Côte de Beaune – onde está este climat – é muito mais terra de brancos do que de tintos, e que Corton, junto com Musigny são as duas únicas apelações que produzem tanto brancos quanto tintos.
Até esta rodada a “sorte” ajudou-me com acerto de 100% e talvez fosse a “hora de tirar o time de campo” pois a seguir só dei “caneladas”. O que viria pela frente impediu-me de tomar esta decisão… E quem disse que vinho não é lúdico?
No próximo texto continuamos falando dos demais flights tão gloriosos quanto estes.