Alguns convites se destacam entre os recebidos. Dessa vez, o La Table Bleue chegou com uma proposta: super toscanos e uma massa artesanal e caseira com trufas de verão?
E que tal, depois das borbulhas de Reims, um confronto entre Pernots?
Acertados os detalhes e firmada a data, chega a hora. No gênesis do enófilo, está que tudo se inicia com as borbulhas. Dessa vez, um quarteto, com a primeira corda sendo de Fleury, safra 2010, corte de 80% pinot noir, 20% chardonnay, resultado da colheita de vvas provenientes de 4 parcelas da Côte des Bars : Charme de Fin, Valprune, Meambauché e Valvérot. Esta cuvée é vinificada 40% em cubas e 60% em barricas. Elegante amouse bouche, trazido pela Delacroix.
Segunda corda e terceira cordas: um duelo de blanc de blancs, uma feita por Larmandier Bernier (Delacroix), a Vieille Vigne du Levant, vinhas velhas de 80 anos plantadas em terroir de giz e argila, a outra de La Rogerie (Maison Sirino), do casal François Petit, originário de Champagne, e Justine Boxler, da Alsácia. É fruto de uvas de mais de 80 anos e envelhecimento de sete anos com uvas ao redor de Avize.
Quarta corda que me deixou pendurado, tão pendurado que, enquanto a mesa debatia os pulignys, eu apenas tinha boca e olhos para a DT 741, safra 2013, de Jacquesson, uma garrafa que já enseja grande prazer e profundidade. Uma das casas preferidas e emocionais de pisandoemuvas.
Depois das borbulhas, hora de dois brancos: Puligny Folatières 2018 de Paul Pernot (Uva Vinhos) com Puligny Clos de Follatières 2019 de Alvina Pernot (Maison Sirino), duas interpretações do terroir, sob duas conduções diferentes. Paul, o avô, produz um vinho já exuberante, a neta traz tensão a esse puligny ainda novo, mas com grande potencial. São dois belos vinhos, boa parte da mesa inclinou-se para o avô, mas o coração recai para o estilo da neta, que une tensão, elegância e profundidade, como Pillot e Moreau em Chassagne ou Roulot e Jobard em Meursault. às cegas ainda chega um vinho com aroma de envelhecimento: um dão invencível no quesito qualidade, envelhecimento e preço.
Passados champagnes e brancos, chega a hora dos tintos italianos. Chegam em baterias. A primeira traz Brunellos, mas a primeira parte da trilogia é vinda de Angelo Gaja e sua experiência em Bolgheri, da excelente safra de 2016, um corte de Merlot, Syrah e Sangiovese, maturado por 12 meses em barricas de carvalho.
Depois chega a hora de dois brunelli, ambos de Casanova di Neri, Cerretalto, safras 1997, 2004, um no ápice, com seus terciários desenvolvidos e taninos amaciados pelo tempo (considerado por aprecidadores da azienda o melhor já feito), o 2004 ainda com certa vida pela frente.
Não terminou. O último voo pela Toscana traz dois rótulos de supertoscanos: Solaia, de Marchesi Antinori, e Sassicaia, de Tenuta San Guido.
Solaia significa ‘ensolarado’ em italiano, é um vinhedo de 10 hectares voltado para sudoeste. Está localizado em Santa Cristina, contíguo ao vinhedo Tignanello, que fica na mesma propriedade, na zona Mercatale Val di Pesa de Chianti Classico. Antinori produziu pela primeira vez um vinho de vinhedo único a partir dessas vinhas na safra de 1978; a mistura inicial foi 80% Cabernet Sauvignon e 20% Cabernet Franc, que foi repetida em 1979. Durante as safras seguintes, 20% de Sangiovese foram introduzidos e pequenos ajustes foram feitos (de acordo com a safra) nas proporções de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc utilizadas, para chegar ao blend atual de 75% Cabernet Sauvignon, 5% Cabernet Franc e 20% Sangiovese.
Sassicaia é um vinho mítico. Em 1968, lançou os supertoscanos e na safra 1985 fez um vinho que às cegas derruba o primeiro time bordalês. Posicionou Bolgheri na primeira divisão de vinhos italianos. Criação do marquês Mario Incisa della Rocchetta, que plantou vinhas Cabernet Sauvignon para consumo próprio na década de 1940 em sua propriedade em San Guido, e chamou o vinho resultante de Sassicaia.
Nadia Jung – pisandoemuvas.com