A rotina do chef Rodrigo Oliveira está mais agitada nas últimas semanas. Acostumado a andar poucos metros para deixar sua casa e ir trabalhar nas cozinhas vizinhas do Mocotó e do Esquina Mocotó, na Vila Medeiros, ele agora está tendo de ir um dia sim, um dia não até a avenida Paulista, onde foi aberto recentemente mais um endereço seu na cidade: o Balaio. O ritmo deve permanecer assim por algumas semanas até que suas vindas para o restaurante no térreo do Instituto Moreira Sales fiquem ao redor de três vezes por semana e aí possam ser apenas semanais. A cada tentáculo novo, Rodrigo tenta ser diferente.
O Mocotó, mais simples, pai de todos os outros, é um misto de bar e restaurante de bairro, unindo grandes caipirinhas com pratos regionais que dificilmente se encontravam em outros lugares, como a mocofava; no Esquina, o estrelada pelo Michelin, a cozinha é autoral, mais moderna, o cardápio é sazonal, mas ainda com um custo-benefício que torna obrigatória a ida até lá. Em tempos de lei seca, a depender de onde se mora, pode-se ir de metrô até o Tucuruvi e dali pedir um carro até a Vila Medeiros. No mercado de Pinheiros, de longe o mais fraco, irregular e dispensável da turma, a ideia é servir porções de pratos tradicionais, como o baião de dois ou o dadinho de tapioca. (Não fiz ainda a peregrinação para o endereço do shopping D, o Café Mocotó, proposta semelhante à do mercado de Pinheiros.)
O Balaio é uma proposta revisitada do Esquina Mocotó. Sai a Vila Medeiros, entra a avenida Paulista. Sai a casa de bairro transformada em mesa estrelada, entra a arquitetura moderna que faz par com o prédio do Moreira Sales. Saem os preços para lá de atrativos da Vila Medeiros, chegam os preços dos Jardins e de Pinheiros (na média R$ 100 por pessoa um almoço com entrada e prato principal e um suco). Saem os pratos mais autorais do Esquina, entra uma junção entre o moderno e o clássico, com um toque de Jardins.
Nas entradas, há o clássico dadinho de tapioca, pastel de verdura com queijo de canastra, o rojão de porco com farofinha de milho caipira (dois espetinhos de porco), o croquete de linguiça bragantina. Nos pratos principais, há cupim de panela, pratos para vegetarianos, como os cogumelos, batata doce, cítricos e folhas da horta, e pratos para compartilhar: a caldeirada caiçara, com arroz vermelho.
Peixe do dia com pirão de frutos do mar: cozinha de Rodrigo Oliveira sempre vale à pena de ser revisitada, seja na Vila Norte, seja no Espigão central
O rojão de porco montau (R$ 29), em que vem dois espetinhos, é uma boa entrada, mas pequena entrada para compartilhar. O peixe do dia (na ocasião, uma prejereba demorou longos minutos além do previsto, mas veio suculento e com um ótimo pirão de frutos do mar. Pena que a porção de peixe e da comida (R$ 59) terminaram rapidamente, poderia ser um pouco maior, mas estamos nos Jardins, não na Vila Medeiros, infelizmente.
Rodrigo Oliveira forma com o paraense Thiago Castanho uma dupla de respeito. Jovens, dinâmicos, comandam endereços obrigatórios. O Balaio deixou a comida de Rodrigo mais perto da minha casa, mas não riscou do mapa o Mocotó, ao contrário, tornou ainda mais indispensável a visita mais rotineira aos dois endereços em que tudo começou. Espero de verdade que a expansão não produza efeitos ruins sobre a Nossa Senhora do Loreto, de quem serei devoto.