Todos têm sua zonas de conforto. Na gastronomia, quando saímos com meus pais para almoçar no domingo, não tentamos sair do óbvio: se for italiano, vamos de Supra e de Buttina, se formos de oriental, vamos do Segredo Chinês , se quisermos mais opções, passamos um dia antes na rotisseria do Santa Luzia, se formos de frango com polenta, é hora do Brazeiro, na Saúde, se for de buffet, é hora do Ráscal.
De vez em quando buscamos o desconforto e exploramos novos endereços: fazia tempo que minha mãe queria conhecer o Eataly, misto de supermercado, escola de gastronomia, cafeteria, wine bar, mercado de pescados, açougue e restaurantes. Pelo visto, não era só minha mãe que queria conhecê-lo. Gente fotografando, gente com malas de rodinhas, gente que olhava cada canto do Eataly, gente demais às 14 horas.
A fila para comer no restaurante de frutos do mar superava 45 minutos. Resolvemos ir então ao último piso para comer no Brace, restaurante cuja inspiração vem da brasa. O aplicativo pelo celular de reserva não funcionou, o que fez com esperássemos dez minutos a mais do que o estimado, depois de reclamação com a hostess. Hora de sentar.
Segunda reclamação: a carta de vinhos não tem opções vendidas em taças, as opções de meia garrafa são sofríveis, os rótulos mais baratos da Itália em garrafas de 750 ml (R$ 84 e R$ 91) são fraquíssimos, ainda mais por se tratar de um lugar cuja propaganda é vender o que há de melhor na Itália.
Terceira reclamação: foram quase 45 minutos do pedido ao garçom até a chegada da comida.
Quarta reclamação: garçons ficam enchendo seu copo de bebida, mesmo você pedindo para que não o façam.
Com tudo isso, eu me preparava para que, quando a comida chegasse à mesa, eu tivesse todos os motivos para dizer que não dá mesmo para sair da zona de conforto num domingo em São Paulo, mas a comida me impediu de ser tão taxativo. O ossobuco com cogumelos é bom, o peixe do dia frito com maionese e salada também é bom, mas ótimas são as carnes: a costelinha de porco “Duroc”, molho barbecue, maçã assada, cebola roxa e melaço de cana é tenra, com um molho barbecue bom; o Corte de costela com batatinhas fritas, flor de sal e alecrim da horta é ótima opção, fazia tempinho que não comia uma carne suculenta por São Paulo, mas ainda bem abaixo do superlativo Komka, de Porto Alegre.
Vale o desconforto? Se for uma vez, sim. O Santa Luzia, seja na rotisseria, seja como supermercado, não deixa nada a desejar ao Eataly, cujo grande ponto forte é a venda de peixes frescos na peixaria, coisa que o Santa Luzia, infelizmente, não tem.