Por Heloiza Canassa
Entendo os chocólatras, mas meu paladar de sobremesa pede fruta fresca ou qualquer coisa abaixo de -15°C. Se juntar as duas coisas, melhor ainda. Os suíços comem sorvete em qualquer época do ano, por que os brasileiros, presenteados com veranicos frequentes ao longo dos 365 dias do calendário, não fariam o mesmo? Com esta crença arraigada no coração (e no estômago), provar sorvetes é hábito para um rol de pessoas nem tão estranhas do qual faço parte.
A felicidade em formato de bolas chegou quando uma nova sorveteria abriu no coração da Vila Mariana. Paulistano que se preze quer viver em um raio contido, sem grandes deslocamentos, fazendo o melhor uso possível do tempo. Ter uma sorveteria a minutos de caminhada do trabalho, da escola dos filhos e de casa é luxo. E nem todo mundo mora nos Jardins, Vila Madalena ou Higienópolis.
A Walnuts abriu sua estreita porta quando o verão se anunciava. Da calçada, o cheiro da casquinha de chocolate ou tradicional feita na hora te agarra pelo nariz. Recomendo não resistir e entrar de vez, porque a surpresa está na geladeira.
Os quatro jovens e simpáticos sócios se propõem a fazer poucos sabores artesanalmente (são 10 no cardápio, que variam de tempos em tempos) distribuídos entre os sorvetes com base de fruta, leite ou veganos. Melancia com gengibre, morango com laranja, caramelo com sal (poderia ter mais sal, na minha opinião, mas entendo o ajuste ao paladar brasileiro, e o que vale é matar as saudades da Berthillon em Paris), abacate com limão e mel, sorvete de bolo de cenoura e o mais novo de banana, doce de leite e páprica defumada. Eles têm até o dom de transformar o fracasso certo em um tiro no alvo. Não dá para imaginar que um sorvete de cheesecake de tangerina possa ser bom, mas eles te provam o contrário.
No Carnaval, os clientes foram presenteados com uma leva especial de sorvete de amora com gin. Fruta a -15°C com este destilado delicioso? Lacrou, mas pena que acabou. No dia de St. Patrick eles fizeram uma tiragem de sorvete de irish coffee. E assim eles te conquistam. A calçada está sempre cheia de crianças e adultos. Falta fazer um parklet com areia e guarda-sol para a clientela não sair mais.
Perto da Walnuts está a Frutos do Cerrado, que diferentemente da primeira tem um cardápio extenso de sabores. Mas paralelamente à primeira, tem sabores que o paulistano não encontra em qualquer esquina: tapioca, tamarindo, seriguela, cupuaçu, graviola…. Não recomendo a visita para provar os tradicionais sorvetes de chocolate, morango e creme. Estes ficam aquém do desejado. Mas os sorvetes de frutas das regiões norte e nordeste refrescam e matam a saudade de quem não pode embarcar em voos de mais de duas horas a qualquer momento.
Para quem gosta de fruta, principalmente abaixo de zero, os dois endereços merecem uma visita.