Alemanha de Marcio Morelli

Na última segunda-feira de maio de 2024, tivemos a oportunidade de fazer um passeio pelos rótulos tedescos importados pela @caveleman, de Marcio Morelli, que está construindo um portfólio de vinhos alemães que fará história no país. Há estilos, mãos, filosofias e terroirs tão diferentes, que se comprova que a qualidade não está apenas na riesling, mas em chardonnay e pinot noir. Mas antes da Alemanha uma parada em Champagne, mais precisamente na Côte de Bars. Marie Courtin, Efflorescence, safra 2017, terroir da Côte des Bars (Aube). Dominique Moreau criou a casa em 2005 em um terroir com fama para a produção de pinot noir, videiras de 45 anos.
Dominique faz vários cuvées, mas a maior parte de sua pequena produção é dividida entre seus cuvées Résonance e Éfflorescence, a primeira fermentada em aço inoxidável e envelhecida por 24 meses sur lattes (período de tempo no qual as garrafas de Champagne ficam armazenadas em posição horizontal, como parte do processo de produção que inclui a segunda fermentação, chamada na região de prise de mousse), e o último é fermentado e envelhecido em barricas usadas, seguido de 36 meses sur lattes. Dominique Moreau faz belos vinhos, sempre extraindo um lado elegante e floral em suas criações (a rosé Indulgence é obrigatória). Na Éfflorescence, o lado floral delicado está ali. Tentaria harmonizar com codornas e morilles.
Da Champagne vamos para a Alemanha. Primeira parada: Rheingau. Hans Josef Becker, apelidado de Ha-Jo. São pouco mais de dez hectares de uvas, 80% delas riesling, com produção tradicional, mantidas em contato com as leveduras o máximo de tempo possível. “Meus vinhos são ricos e potentes, não precisam de açúcar residual”, disse ele a Stephan Reinhardt, no excelente “The Finest Wines of Germany”. O Spatlese trocken Wallufer Walkkeberg er 2012 tem um aroma que mescla maracujá, mel, toque floral e na boca a mineralidade da pedra de ardósia. Harmonizaria com as ostras do Baru Marisqueria. Que beleza de riesling!
Segunda parada: wasenhaus. Christoph Wolber e Alexander Götze administram essa vinícola em Staufen, ao sul de Freiburg i. Amigos desde os estudos de enologia em Beaune, na Borgonha, fundaram a propriedade em 2010. Trabalharem por lá em grandes domaines como Pierre Morey, Comte Armand, De Montille e Leflaive, e decidiram regressar à Alemanha, onde criaram a Wasenhaus . Escolheram a região vitivinícola de Baden, num vale que os separa das montanhas francesas dos Vosges e dos vinhedos da Alsácia. A primeira safra Wasenhaus é 2016. Em pouco tempo, eles fizeram barulho. Diga-se de passagem: aqui não são apenas os tintos que merecem mergulho, o chardonnay é uma beleza, com uma mineralidade instigante ao fundo, feito para frutos do mar e para a comida do Sororoca ou o ótimo peixe do Virado.
No capítulo tintos, o grand ordinaire é um glou glou delicioso, extremamente perigoso, com um claro defeito: deveria ser em garrafas magnums. O Spätburgunder 2021 é um belo vinho, elegante e às cegas também provocaria confusão em uma degustação com pinots franceses.
O estilo da Wasenhaus é bem diferente do clássico de Martin Wassmer, o que prova que Marcio Morelli vai aos poucos compondo uma sinfonia de notas que ao fim criam uma melodia de se aplaudir de pé. Dois destaques de Wassmer: o excelente Schlatter, que em 2018 está pronto (apesar de que em três a cinco anos ele ganhará toques terciários bem instigantes) e em 2019 ainda esbanja juventude. Hedonismo agora ou amanhã? A 391 reais se torna uma excelente qualidade preço. Harmonizaria com o shoulder de wagyo do Virado.
No nível grand cru, a contraposição entre Castleberg 2015 e o 2014 Maltesergarten, dois belos pinots, com minha preferência recaindo sobre o último, um terroir que fica entre a floresta negra e o vale do reno. Com dez anos de vida, ainda está na juventude, tem um final de boca que mostra profundidade e, claramente, demonstra por que a Alemanha é o mais subestimado dos produtores de vinhos brancos e tintos do planeta vitis.
Que os átrios e os ventrículos de Marcio Morelli continuem pulsando e fazendo com que a Alemanha chegue ao Brasil em sua melhor forma. Os apreciadores de Baco só podem agradecer. Virão ainda muitas novidades da Cave Leman, de Baden a Franken. Se Adolar Herman fez história nos anos 2000, agora um sobrenome italiano escreverá as linhas tedescas por aqui.

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