Foi no inverno português…
Ela não tinha pouso.
Formada em fotografia de cinema percorria o mundo atrás de histórias para suas imagens.
Raiz não tinha. Sobrenome também não.
Aliás tinha, mas ignorava até o nome pelos relentos de existência solta.
Variava os nomes, apenas refletida de olhares de dizeres inauditos. Seu único empecilho na estrada era se apaixonar e ficar mais tempo do que o necessário…
Camilo um cara das montanhas! Em toda sua vida só havia tido duas moradas.
Enólogo, cozinheiro, compositor, músico… polivalente: Um homem para que vivesse nas montanhas tinha que ter independência, como ela…
As montanhas guardavam vinhedos antigos e impressionantes.
Cenário de cinema para ela! Desta vez ela ia atrás de vinhedos nus para que pudesse vesti-los com sua fotografia.
Só que Camilo, homem vivido, passou doze anos sozinho sem que tivesse recebido companhia e agora cheio de manias! Sua minúscula casa perdida, de difícil acesso, despistava visitas e forasteiros, mas não ela!
Camilo estava disposto a arriscar, naquele inverno português uma aproximação com a forasteira, assim passariam tempo em que poderia ensinar tudo sobre o plantio, a vinificação, a produção do seu vinho e todo o resto, desde que por única exigência dissesse seu nome!
Ela, de espírito inquieto, queria sentir o gosto frutado do vinho produzido por si, como beijo no clamor da língua, aquele cheiro calmo… Então disse:
Antônia!
Assim, Camilo e Antônia passaram dias, semanas, meses…, a cultivar o pequeno vinhedo, sob imagens dela, que era Antônia, por enquanto… Camilo vivia onde seria o próximo encontro, muitos olhares, palavras, canções e fotografias… Mais meses, momento da colheita, outros meses, mais um pouco de dança, alguns vinhos, e um tanto de brigas, e a primavera dava as caras! Chegada a hora de engarrafar o vinho!
Como ela, Antônia agora carregava o inverno no peito, sussurrou um sossego feito reza e partiu assim como chego, porém como a febre da vela (apaixonada) e a curiosidade dos que professam o conhecimento da comunhão: uma ecumênica primavera dançava agora no íntimo céu universal.
Eles!
Camilo?
“Sinto falta do frio do inverno,
sinto falta de ter mais uma desculpa para procurar o quente do teu abraço…“