Não conhece o produtor? Está na hora de virar o jogo antes que os preços subam exponecialmente
Os vinhos mais famosos tintos da Bourgogne vêm da Côte de Nuits, e os brancos, da Côte de Beaune. Pulignys, Chassagnes, Meursaults disputam corações e mentes de enófilos pelo mundo todo, mas alguns terroirs menos conhecidos têm ganho a atenção de críticos e enófilos, posicionando terras menos conhecidas lado a lado de nomes consagrados.
Um deles é Vincent Dureuil Janthial, do domaine Dureuil Janthial, cuja grande parte de sua produção é consagrada a produzir Rullys. Há alguns anos, a Revista de Vinhos da França o colocou entre os 50 melhores produtores de vinhos brancos da Bourgogne, ao lado de Roulot, Ramonet, Coche e cia.
William Kelley, degustador de Bourgognes de Robert Parker, não tem nenhuma reticência a apontar que Dureuil Janthial produz as maiores barganhas brancas da Bourgogne. No mundo pré pandemia, quem ia a restaurantes e bistrôs franceses em Paris, Bourgogne se deparava com vários vinhos do domaine. Não à toa. Segredos correm rápido. Os brancos são excelentes, às cegas podem aprontar para os melhores terroirs da Bourgogne. Um Grésigny Vieilles Vignes 2014 bebido no fim do ano passado estava impecável, com fruta, mineralidade, um toque herbáceo e um floral, complexidade ímpar.
A seguir entrevista exclusiva com Dureuil Janthial, cujos vinhos devem chegar em junho pela Clarets.
Pisando em Uvas: Há alguns anos, a Revista de Vinhos da França publicou a lista de 50 melhores produtores de brancos da Bourgogne e posicionou vocês entre os primeiros. No perfil do seu domaine, eles diziam que você e sua esposa, ao assumirem o domaine, também pegaram o carro e ficaram percorrendo vários lugares para vender seus vinhos e fazer publicidade deles. Como foi isso?
Dureuil Janthial: Nós recuperamos as vinhas que pertenciam à minha família em 1994. Meu pai ficou com a responsabilidade do domaine até 2002 quando ele decidiu se aposentar. Nesse momento o novo domaine Vincent Dureuil Janthial existia, mas era desconhecido. Essa é a razão pela qual a gente teve de trabalhar bastante para que fôssemos reconhecidos.
Pisando em Uvas: Cada viticultor tem um terroir de preferência. Pierre Ramonet amava seu Ruchottes, Jean Marc Roulot participou de uma peça de teatro com seu Luchets como protagonista, Alain Burguet se inclinava pelo Mes Favorites. Qual seu terroir preferido?
Dureuil Janthial: Meix Cadot Vieilles Vignes, as vinhas foram plantadas na década de 1920 pelo meu tataravô, meus filhos serão a quinta geração que trabalharão ali.
Pisando em Uvas: Se você fosse sommelier de um restaurante, qual seria a harmonização com seu Grésigny e com o Meix Cadot?
Dureuil Janthial: É uma questão pegadinha porque eu não sou sommelier, mas por que não vieiras?
Pisando em Uvas: Rully não é um terroir conhecido como Puligny, Chassagne et Meursault. Muitos ainda o desconhecem. Como é o potencial de envelhecimento? A textura é diferente de Puligny, mais leve, não?
Dureuil Janthial: Eu mantenho ainda na adega os primeiros vinhos que fiz depois que meu pai se aposentou em 2002. Abrimos em algumas ocasiões e estão ótimos. Rullys são mais encorpados, gordos que Pulignys.
Pisando em Uvas: O Domaine se estende por 20 hectares, principalmente na Côte Chalonnaise, mas contempla também 3 hectares na Côte de Nuits e Côte de Beaune. Há diferença de vinificação entre Rully e Puligny, entre o Rully tinto e o Nuits Saint Georges tinto que você vinifica?
Dureuil Janthial: Nenhuma diferença, tudo é feito do mesmo jeito para que o terroir se exprima.
Pisando em Uvas: O Clos de Tart foi vendido em 2017 por € 250 milhões. Há muitos investidores estrangeiros e franceses de olho em terras na Bourgogne. Isso é preocupante?
Dureuil Janthial: Esse futuro me preocupa, sim. Na Bourgogne é preciso que o produtor vá trabalhar suas vinhas para compreender o terroir e o transmitir pelos seus vinhos.