Uma guia por Napa, parte 1

Por Francisco Maia Neto

Embora tecnicamente Napa Valley seja uma parte da área vinícola da Califórnia, com formato longitudinal e compreendida ao norte da cidade de São Francisco, para efeito de demarcação geográfica aqui trataremos por essa denominação não só esta área específica, mas também outras regiões em seu entorno, até menos conhecidas, mas que formam um conjunto único de vinícolas e outras atrações para quem visita este local.

A primeira vez que ouvi referência aos vinhos norte-americanos foi em uma confraria criada em Belo Horizonteem 2009, quando numa das primeiras degustações um dos confrades resolveu reproduzir o famoso Julgamento de Paris, evento até então para mim desconhecido.

Este foi talvez o mais marcante acontecimento do mundo dos vinhos, pelo menos no século 20, uma vez que o seu resultado alterou a geografia mundial do vinho, fazendo com que os consumidores passassem a olhar com outros olhos os vinhos produzidos no Novo Mundo. A história data de 1976, quando Steven Spurrier, à época um comerciante de vinhos residente em Paris, promoveu uma competição entre vinhos americanos e franceses, notadamente da Borgonha e de Bordeaux, contra outros produzidos na Califórnia, fazendo com que vinhos brancos e vinhos tintos competissem entre si.

Antes da degustação, todos apostavam na superioridade dos vinhos franceses sobre os norte-americanos. Terminada a degustação às cegas, o resultado foi justamente o contrário: os vinhos californianos Stag’s Leap Wine Cellars, no caso dos tintos, produzido com a uva  Cabernet Sauvignon, e o Chateau Montelena, com um branco da variedade Chardonnay, bateram os vinhos franceses, tornando-se os vencedores da famosa degustação que abalou o mundo do vinho na França e trouxe repercussões em todo o planeta, especialmente pela notável capacidade dos produtores norte-americanos em divulgar a façanha.

 

 

Logo depois dessa noite de degustação com os confrades, resolvi conhecer a região do Napa Valley, onde fiz uma pequena viagem, que confesso ocorreu sem o devido planejamento, com o intuito de tomar conhecimento dessa região fascinante. Já havia estado em São Francisco anteriormente, mas não havia sido mordido pela  curiosidade de conhecer o Napa Valley. Naquela oportunidade fomos orientados por um amigo a nos hospedar numa cidade chamada Yountville, situada numa posição estratégica no vale, devida à sua centralidade nessa região.

Aquela oportunidade realmente foi um momento de grandes descobertas, pois tudo era desconhecido e nos deparamos com uma realidade totalmente nova, onde havia uma grande curiosidade em conhecer essa região, que para nós a princípio se mostrava extremamente misteriosa. Não poderia haver surpresa mais agradável. A começar por esta pequenina cidade, com apenas sete mil habitantes, e povoada com grandes restaurantes, inclusive um dos melhores dos Estados Unidos, famoso pelas longas filas de espera para reservar uma mesa.

Nossa estadia não foi muito longa, mas tivemos oportunidade de entender perfeitamente a lógica do local e fazer alguns passeios muito interessantes nesta região, que hoje recebe mais de 5 milhões de turistas por ano e responde por 90% de todo o vinho fabricado nos Estados Unidos.

Sua história entretanto é inusitada, uma vez que no início do século 20 a região sofreu bastante com a praga filoxera, que destruiu vinhedos ao longo de todo mundo, e logo depois com a famigerada Lei Seca, entre os anos de 1920 e 1933, que proibiu o consumo de bebida alcoólica nos Estados Unidos. Seguida ainda da Segunda Guerra Mundial, que trouxe tantas consequências nefastas para a economia americana. Portanto, somente após o fim do confronto a produção de vinhos foi retomada no local.

Temos consciência de que é muito difícil descrever esse grande universo da vitivinicultura a partir de um simples resumo, especialmente porque não temos a pretensão de abranger todas as atividades enoturísticas e passeios possíveis dentro de um local onde existem centenas de atrações, principalmente aquelas formadas pelas inúmeras vinícolas que existem no local, por isso a visão é um tanto pessoal e certamente incompleta da viagem a ser feita. De toda forma, espero contribuir para que as pessoas que se dirigirem ao Napa Valley possam curtir o local tanto quanto eu, que tenho predileção por esta área vinícola sobre qualquer das outras 20 regiões dedicadas ao vinho que já tive oportunidade de visitar.

 

 

O mapa aqui apresentado é muito simplista, mas foi esta a intenção, pois nos permite ter uma visão espacial e abrangente da região, que retirei da revista Viagem e Turismo, sendo utilizada em minha primeira visita ao local, e foi de extremamente utilidade para ter uma visão global e nos situar geograficamente dentre as diversas localidades que compreendem o universo para visitação do local.

Conforme já explicado, o que denominamos Napa Valley é a região posicionada ao norte de São Francisco, cidade situada a aproximadamente uma hora e meia do vale, cujo acesso é feito pela emblemática ponte Golden Gate.

Em uma rápida descrição, podemos caracterizar o vale como uma região comprida, formada em ordem ascendente basicamente pelas cidades de Napa, Sonoma, Yountville, Oakville, Rutherford, Santa Helena e Calistoga, cuja extensão natural a sua esquerda é a cidade de Sonoma.

Duas são as principais vias de circulação pela região, possuindo uma terceira que é uma alternativa quando se toma o caminho por Sonoma. A principal via é a 29 e leva da cidade de Napa até Calistoga, passando pelas cidades anteriormente citadas, se mostrando uma estrada bastante movimentada, chegando em algumas épocas do ano, como na vindima e em alguns horários de pico, a apresentar engarrafamentos, dificultando o deslocamento, portanto deve-se estar atento a esta situação, que poderá alterar seus horários de chegada e partida.

A outra via, paralela à principal, é a Silverado, tida como menos importante, mas que possui muitas vinícolas bastante conhecidas naquela região e deverá ser um importante roteiro para os visitantes, não só para deslocamentos entre cidades, como para visitações às vinícolas situadas às suas margens.

A terceira via é a 12, uma estrada que percorre o vale passando pela cidade de Sonoma, paralela à 29 e um pouco mais distante desta e da Silverado, mas que representa uma importante alternativa para fazer a rota norte/sul naquela região, permitindo acessar a cidade de Calistoga e de lá voltar no sentido contrário, pelas cidades relacionadas anteriormente.

Aqui terminamos a primeira parte do guia. Os próximos posts abordarão as vinícolas a serem visitados, os restaurantes, os passeios indicados e dicas de onde se hospedar.

Enjoy!

* Engenheiro civil e advogado, sócio da Precisão Consultoria, possuindo diversos livros publicados sobre avaliações, perícias, arbitragem, mediação, mercado imobiliário e construção, com atuação empresarial no ramo imobiliário e agronegócio cafeeiro. Há mais de 15 anos iniciou-se no mundo dos vinhos, com especial predileção pelo enoturismo, sendo fundador das confrarias Amigos do Vinho BH, Sociedade dos Acadêmicos do Vinho e Vinho é Vida!, esta última que também dá nome ao grupo que administra no Facebook.

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