Peter Liem começou a trabalhar com vinho na década de 1990, quando era um dos vendedores de uma das melhores lojas de San Francisco e dava dicas sobre Bourgogne para os clientes. A seção dos rótulos da Côte d´Or ficava ao lado das Champagnes e ele começou a se interessar pelas borbulhas mais complexas do mundo. A partir de 1998 começou a viajar todos os anos para Champagne e visitar produtores. Em 2006, ele trocou a Califórnia pela pequena Dizy, reputada pelos seus vinhedos que produzem alguns dos melhores champagnes, principalmente nas mãos dos irmãos Chicquet, proprietários da Jacquesson. Hoje Liem mora atrás da vinícola de Gaston Chicquet e da Jacquesson.
Liem, cujo site http://www.champagneguide.net/ é o mais completo sobre a região na internet, lançou ano passado um livro obrigatório para os amantes de vinho: https://www.amazon.com/Champagne-Boxed-Book-Map-Set/dp/1607748428 . A seguir os principais trechos da entrevista:
PISANDO EM UVAS: Os preços dos terroirs nas regiões mais conhecidas estão atingindo níveis recordes. No Piemonte, novas caras estão chegando, investidores americanos compraram a tradicional Vietti. Na Champagne, o cenário é diferente, já que a LVHM tem participação relevante na região. Como está o preço da terra na Champagne? A produção artesanal está ameaçada? A LVHM ou outros grupos deverão aumentar sua posição?
PETER LIEM: A Champagne já tem alguns dos mais caros vinhedos do mundo e os preços estão subindo. É difícil comprar terroirs porque a disponibilidade é baixa e as pessoas não querem vender. O resultado é que cada vez mais produtores que cultivam suas uvas estão se registrando como NM (négociant-manipulant, produtor individual ou empresa que compra as uvas, o mosto ou o vinho para produzir Champagne na própria vinícola e comercializá-lo com o próprio rótulo) e comprando uvas para expandir seus negócios. Investimento de outros grupos já é bastante presente na região, a LVHM não é a única multinacional nesse terroir, e isso não é necessariamente algo ruim. Leclerc-Briant (que foi comprada no início da década por um casal de americanos apaixonado pela região) é um bom exemplo de como investimento de fora pode fazer renascer uma boa vinícola.
PISANDO EM UVAS : Os preços das garrafas de champagne de alguns produtores têm aumentado cada vez mais. Isso é uma tendência?
PETER LIEM: Os preços vão baixar? Acho que não. Demanda por champagne de alta qualidade é hoje mais alta do que sempre foi e a oferta é limitada para ser elevada. Na verdade, pode-se dizer que a champagne ainda apresenta uma excelente relação qualidade preço em comparação com outras regiões vinícolas. Os preços deverão continuar subindo principalmente nas casas mais reputadas e nos produtores mais prestigiados. A China ainda não tem se interessado muito pela região, não é um mercado relevante no momento, mas isso deverá mudar provavelmente no futuro.
PISANDO EM UVAS : O aquecimento global tem tido impacto sobre o mundo do vinho e das borbulhas. A Inglaterra tem começado a produzir espumantes que têm ganho a atenção de críticos. Qual será o impacto que ele terá sobre a região?
PETER LIEM: Olhando os dados de clima das últimas quatro décadas é inegável que a Champagne tem se tornado uma região mais quente. Isso mudou a temporada de crescimento das vinhas: os brotos aparecem mais cedo, ou seja, eles estão mais suscetíveis a tempestades e a geadas; os verões são mais quentes, mas com mais chuvas fortes; a colheita é mais cedo, com um ciclo de crescimento entre o surgimento das flores e a colheita de 90 dias, quando o normal era 100. O aquecimento global ainda contribuiu para que houvesse uma mudança no estilo dos vinhos, com os produtores colhendo uvas mais maduras, com um potencial mais alto de álcool e maior maturidade fenólica.
PISANDO EM UVAS : Há uma champagne que você bebeu e que não sai da sua cabeça?
PETER LIEM: Tive a sorte de beber muitas grandes garrafas, muitas são inesquecíveis, mas outro dia, recentemente, tive a oportunidade de beber uma Pol Roger 1911, que mostrava uma impressionante vivacidade e complexidade. Champagne consegue se manter por muito mais tempo do que a maioria da gente pensa e uma garrafa como essa demonstra a extraordinária capacidade de ganhar complexidade depois do dégorgement.
PISANDO EM UVAS: A região é reputada também pela comida. O Les Crayères, com três estrelas no Michelin, é uma instituição. Há outros endereços que você recomenda?
PETER LIEM: Em Reims, além do Crayères, outra mesa bastante reputada é o L’Assiette Champenoise, mas há outros bons endereços como o Le Millénaire ou o Le Foch. Para refeiçoes mais casuais, há Au Bon Manger, Le Bocal e Le Coq Rouge. Se estiver procurando bons lugares para beber champagne, os endereços são o Le Wine Bar by Le Vintage e o Glue Pot.
PISANDO EM UVAS: Você mora e se especializou em champagne. Você bebe espumantes de outras regiões?
PETER LIEM: Eu bebo espumantes de todo o mundo, mas não escrevo sobre eles profissionalmente.Há muitas regiões que produzem bons espumantes e esse número vai aumentar. Eu tenho ficado impressionado com alguns espumantes da Áustria, Itália, Espanha, África do Sul, Oregon e Califórnia, mas não os bebo com tanta regularidade para emitir uma opinião melhor.
PISANDO EM UVAS: Quais dicas de champagne o senhor dá para quem está começando a beber e não quer gastar muito dinheiro?
PETER LIEM: Há muitas champagnes com bons preços, mas isso depende de como é a importação. Entre as casas, Charles Heidsieck, Philipponnat e Louis Roederer fazem excelentes rótulos não safrados, enquanto Agrapart, Bérêche e Chartogne-Taillet são alguns dos produtores cujas champagnes não safradas se destacam pela qualidade e preço.
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