A Bourgogne por Jasper Morris

Jasper Morris não queria passar horas e horas em audiências nos tribunais e reuniões com clientes. Trocou o Direito pelo prazer dos vinhos. Em 1981, depois de alguns anos trabalhando em lojas de vinho em Londres, abriu a Morris and Verdin, pela qual viajava para a França atrás de rótulos para o negócio. Logo seu GPS mudou: em vez dos chenins blancs do Loire, dos Bordeaux, ele se apaixonou pelos terroirs da Bourgogne. Suas duas primeiras visitas e degustações foram com Dominique Lafon e Coche Dury. “Não foi um mau início”, brinca.

 

No início dos anos 90, comprou uma casa lá. Em 2003, a Morris e Verdin foi comprada pela BBR, uma das mais tradicionais importadoras e lojas de vinhos do mundo. Em janeiro de 2017, ele se aposentou e hoje viaja pelo mundo participando de seminários, degustações e lançou no início do ano seu site: http://insideburgundy.com/ A safra 2016 está disponível de graça, desde que o interessado envie um email a Jasper. Ele também lançou há alguns anos um dos melhores livros sobre a região: Inside Burgundy, que pode ser comprado pela amazon.

Um dos maiores conhecedores de Bourgogne, Jasper Morris respira, vende, compra vinhos da região regularmente desde 1981. A seguir os principais trechos da entrevista:

PISANDO EM UVAS: Em outubro, o Clos de Tart, com 7,5 hectares, foi vendido por 250 milhões de euros, um recorde. O custo da terra tem subido com vigor, os impostos sobre herança tiram 30% da família dos produtores. O futuro da Bourgogne artesanal está sob ameaça?

JASPER MORRIS: Com certeza há riscos envolvidos, principalmente em relação aos vinhedos mais caros, mas isso não afeta a grande maioria da Bourgogne, porque a maioria dos produtores tem propriedades menores e terroirs mais modestos. Planejamento tributário inteligente pode minimizar as taxas de herança, desde que as famílias queiram permanecer no negócio. Eu acho que a Bourgogne artesanal continuará, mas talvez com menos posse de  grands crus

PISANDO EM UVAS: Quando você começou sua carreira no mundo do vinho, há quase 40 anos, se podia comprar uma garrafa de um vinho do Henri Jayer e não era preciso vender um rim para alcançar. A demanda pelos vinhos da região tem aumentado nas últimas duas décadas. Os preços vão continuar em alta?

JASPER MORRIS: Temo que o gênio esteja fora da garrafa, os preços dos vinhos mais procurados devem continuar estáveis ou em alta, embora eu ache que alguns que pretendem se situar no topo da gama – e cuja qualidade não é assim tão elevada – vão sofrer uma queda. Mas qualquer correção maior dependerá de uma grande crise econômica global ou política que aí teria impacto sobre o consumo de vinhos finos.

PISANDO EM UVAS: Quando viajamos para a Europa ou Estados Unidos ou até mesmo a Ásia, encontramos cada vez mais dificuldade para beber safras antigas. Isso é um novo fenômeno?

JASPER MORRIS: Ainda há algumas exceções, mas será cada vez mais difícil mesmo.  Pessoalmente, eu sou contrário a se pagar muito alto por safras recentes. Mas infelizmente há muito poucos restaurantes que compram safras antigas e deixam as garrafas repousarem por anos para que aí sejam abertas quando estão maduras. Mas há algo novo ocorrendo em Londres: colecionadores que têm milhares de rótulos estão colocando seus vinhos em restaurantes locais e não estão interessados em margens altas, mas em fluxo. O colecionador consegue reduzir a quantidade de seu estoque, o restaurante pode oferecer safras antigas de grandes vinhos sem ter de estocá-los e o consumidor pode comprar a preços razoáveis.

PISANDO EM UVAS:  Qual dica o senhor dá para quem quer começar a beber bourgogne e não quer gastar muito dinheiro?

JASPER MORRIS: Primeiro, não vá atrás de quem tem reputação, mas beba tudo de várias regiões para ter uma ideia do que você gosta. Se o seu bolso for limitado, se concentre nas apelações menos conhecidas, como bourgogne genérico ou vilas menores como Maranges, Marsannay, Auxey-Duresses, Savigny. Alguns desses são feitos por produtores com ótima reputação na Côte d´Or. Há muito vinho bom vindo de Maconnais nesses últimos anos.

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