Os points da enologia marginal de São Paulo

Por Augusto Diniz

 

Enquanto alguns se reúnem em confrarias com charutos e caros vinhos na capital, há quem prefira pegar o seu carrinho e percorrer o interior de São Paulo em busca da bebida do Deus Baco (não necessariamente a melhor) para degustar um tinto ou branco num ambiente de vinícola – ou um simulacro disso.
A estrada do vinho de São Roque não é a única opção para se viver essa experiência, embora nos últimos tempos tenha se sofisticado com abertura à beira da via de restaurantes, local para colheita de uva, videiras estrategicamente montadas para impressionar o passante. Antes, era necessário se adentrar nas fazendas para bebericar e jogar conversa fora com o vinicultor em galpões rústicos e capengas.
 
Aos olhos de quem não conhece bem a região, pode até se impressionar, mas quem já frequenta o local faz tempo sabe que parte expressiva da uva que faz o vinho de São Roque vem do Sul do País – portanto, as vinhas que se apresentam vistosas aos olhos do viajante são apenas resquícios de um tempo em que se plantava, de fato, muita uva na localidade.
 
Mas essa ambientação são-roquense é possível encontrar em outros lugares próximos a capital paulista, como a região de Jundiaí, no chamado circuito das frutas – incluindo a uva e seus derivados. Indo um pouco mais além, até em Amparo tem produção de vinho, que talvez os enólogos nem façam cara feia, pois o proprietário é estudado na França – e o vinho tenta seguir arduamente essa escola maior no mundo da bebida. A vinícola chama-se Terrassos e fica numa bela montanha. Digo que é o melhor vinho que bebi pelas bandas paulistas.
 
Há experiências de vinícolas isoladas em outros cantos do Estado de São Paulo, do Vale do Paraíba ao rico oeste paulista, mas duvido que sommeliers se embrenhem por essas paragens…
 
Dois lugares, porém, chamam a atenção na produção de vinho com aclimatação típica, com viticultura por todos os lados e que parecem bem mais engajados em plantar sua própria uva para produzir vinho – ao invés de importá-la.
 
Um dos casos é num município, que faz divisa com São Paulo, mas é mineiro: Andradas, na região próxima a Mogi-Mirim e Mogi-Guaçu.
 
No entanto, a maior sensação de que a cadeia produtiva do vinho é toda local fica em São Miguel Arcanjo, no sul do estado paulista. Videiras se espalham mesmo em estradas vicinais da rodovia principal que corta a via.
 
São Miguel talvez seja o único lugar pelo Sudeste que, de fato, pode se dizer que se bebeu um vinho num cenário autêntico de vinícola – daqueles que todo mundo gostaria de experimentar, com vinhedos a perder de vista, em meio às plantações num ambiente nada urbano. Mas prepare-se para a simplicidade.
 
Tomar vinho nessas condições é um prazer elevado, mesmo que a bebida não passe perto no gosto e no cheiro dos encontros de degustação da bebida nos caros restaurantes paulistanos.
 

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