História e histórias dos vinhos do Porto

A História de Portugal e, consequentemente do Brasil, sua colônia até 1822, está ligada ao desenvolvimento do vinho do porto, um dos principais produtos exportados pelo país e uma das principais moedas de trocas nascidas em solo português no comércio com os ingleses, tradicionais parceiros desde a assinatura no fim do século XIV do Tratado de Windsor, uma das mais antigas alianças diplomáticas e militares do mundo.

No século XVI, surgiu em 1638 por Christiano Kopke e seu filho, Nicolau Kopke, a Casa de Kopke, a mais antiga vinícola do Porto. Em 1670, foi fundada a a primeira casa do Porto de origem britânica, a Warre’s, criada por William Warre, que combateu as invasões francesas no exército anglo-português liderado pelo Duque de Wellington.

No século XVII, Portugal e Inglaterra estreitaram laços, com o Tratado de Methuen, que criou ainda mais incentivos para o negócio do vinho do Porto, determinando que os vinhos portugueses importados para a Inglaterra deveriam pagar de imposto um terço a menos do que os vinhos franceses. Em contrapartida, Portugal abriu sua economia à importação dos produtos britânicos (geralmente produtos manufaturados caros). A consequência foi sentida no Brasil: o aumento da dívida externa de Portugal em relação à Inglaterra fez com que grande parte do ouro que os portugueses retiraram do Brasil no século XVIII fosse parar na Inglaterra para cobrir estas dívidas.

Em 1755, um terremoto de grandes proporções atingiu Lisboa resultando na destruição quase completa da cidade de Lisboa, especialmente na zona da Baixa, e atingindo ainda grande parte do litoral do Algarve e Setúbal. A administração portuguesa buscou modernizar alguns pontos da gestão, seja para suas colônias, seja para seus produtos internos.

O Marquês de Pombal determinou imediatamente o controle estatal sobre o comércio do vinho do Porto, sob a forma de uma empresa, a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (mais tarde conhecida como a Real Companhia ou Companhia Velha), com o monopólio do comércio com a Inglaterra e o Brasil e da produção e venda de aguardente no norte de Portugal.

Em 1757, fez-se a primeira classificação abrangente das vinhas do vinho do Porto (quase um século antes da semelhante classificação que se fez em Bordeaux). Aqueles que produziam os melhores vinhos, conhecidos por “vinhos de feitoria”, foram autorizados a vender os seus vinhos para exportação e reclamar um preço mais elevado, enquanto os que fazem vinhos de qualidade mais modesta, chamados “vinhos de ramo”, ficavam restritos ao mercado interno.

Ao estabelecer os limites geográficos das vinhas do vinho do Porto, classificando-as de acordo com a qualidade e estabelecendo normas para a produção do vinho, o Marquês de Pombal foi um precursor do conceito de DOC (Denominação de Origem Controlada).

Nada melhor que viver essa história com a abertura de seis garrafas de vinhos do Porto que mostram por que esse fortificado é considerado um dos maiores vinhos do mundo. Em uma degustação promovida pela Vinhos de Portugal, em junho, em São Paulo, dirigida pelo jornalista Manuel Carvalho, em que se beberam Poças Colheita 1992, Borges 20 anos e Adriano Ramos Pinto Vintage 1983, três garrafas se destacaram:

Niepoort Garrafeira 1977

A safra 1977 foi ruim em grande parte do mundo. Fez sol ou chuva na hora errada, mas em Madeira e no Porto rendeu grandiosos fortificados. Nascido em 1977, lembro até hoje de um emocionante Terrantez da Cossart Gordon bebido há cinco anos, em 2013. Acidez de um vinho que vai superar minha longevidade. Esse Niepoort 77 é um dos melhores fortificados, mais uma prova de que a família de Dirk Niepoort sabe vinificar, seja em brancos, tintos ou fortificados. Aqui nasce um vinho refinado, elegante, complexo, absolutamente obrigatório.

Warres´s Vintage 1963

A safra 1963 é considerada ao lado de 45 e 2011 as três maiores da história do Porto. Warre´s está presente na história da região, como assinala o texto acima. Aqui temos um Porto grande, não tão quanto o Graham´s 66, nem quanto o Niepoort 77, mas ainda assim um belo porto de uma safra 193. Imagino o que a trinca Taylor´s, Graham´s e Noval fez neste ano.

Real Companhia Velha Colheita 1927

As impressões digitais de Marquês de Pombal estão nessa vinícola, que mandou para o Brasil duas garrafas para essa prova desse porto de 91 anos de idade. Quiçá todos cheguem a essa idade com essa vitalidade, pujança e equilíbrio. Provar um vinho imortal desses é aprender que alguns vinhos são realmente dos sonhos.

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