À mesa com Winston

Melhor que “Destino de uma Nação”, filme que estreou nessa quinta-feira nos cinemas e conta a ascensão de Winston Churchill ao cargo de primeiro ministro, quando tomou a decisão histórica de fazer os ingleses armar barricadas e não se render aos nazistas, é o artigo de Anthony Lane (https://www.newyorker.com/magazine/2017/11/27/why-actors-love-to-play-churchill) sobre o fascínio de atores e diretores e roteiristas sobre o premiê britânico.

Mas aqui o assunto é comer e beber. Diametralmente oposto a Hitler, vegetariano, abstêmio e avesso a qualquer tipo de fumaça, Churchill punha seu fígado e seu pulmão à toda prova. A mesa não era apenas um modo de obter prazer, mas uma maneira de saciar seu apetite por informações e poder. Ele acompanhava com detalhes o que seria servido e gostava de influenciar os outros com seus gostos. Gostava de sopas (não tolerava cremes), não dispensava um bom caviar, preferia caça ou aves como prato principal, depois sorvete de sobremesa, seguidos de pêra e queijo stilton.

Na primeira Guerra Mundial, escreveu que quatro coisas eram essenciais na vida: banhos quentes, brandy envelhecido, ervilhas frescas e champagne gelada. Álcool fazia parte do seu dia a dia. “Eu tirei mais do álcool que ele de mim”, era um de suas tiradas. Roosevelt, presidente dos Estados Unidos no início dos anos 40, disse a um assessor, ao saber da nomeação do primeiro ministro, que Churchill era “o melhor homem para a tarefa, mesmo que estivesse bêbado metade do tempo”.

Os cubanos Romeo y Julieta eram os preferidos; o que ele fumava em dois dias era o salário do seu mordomo

Churchill gostava de dizer que uma taça de champagne nas refeições estimulava o ânimo e o raciocínio. Desde a década de 1920, criou preferência pela marca Pol Roger. Gostava de beber, pelo menos, uma taça aos jantares. Quando Paris foi liberada do cerco nazista, em 1944, a embaixada britânica em Paris resolveu fazer uma festa convidando o premiê e alguns nomes da sociedade francesa. O embaixador britânico, Duff Cooper, sabendo do apreço de Churchil pelas borbulhas de Reims e por belas companhias femininas em recepções, colocou ao seu lado, no evento, Odette Pol Roger, cvujo marido comandava a vinícola predileta do primeiro ministro. A amizade foi instantânea: Churchill nomeou Pol Roger um de seus cavalos de corrida. Já a Pol Roger batizou sua cuvée de luxo com o nome do premiê britânico, o principal divulgador da champagne. A paixão pela França se estendia a outros terroirs.

Em uma carta à esposa Clementine, em 1924, Churchill expressou assim seus gostos à mesa: “champagne nas refeições e entre elas claret (Bordeaux) e soda”.  Qual Bordeaux era o preferido por ele? Ainda há dúvidas, mas uma vez ele se enganou sobre a origem do que bebia. Convidado a um jantar na embaixada espanhola em Londres, ele bebeu o vinho tinto aberto pelos anfitriões com gosto. Não viu o rótulo. Ficou intrigado sobre o que estava sendo servido, embora tivesse certeza de se tratar de um Bordeaux. Ficou surpreso ao saber que era um Veja Sicilia. Porto e aguardente aos fins da refeição eram essenciais para ele. Às dez e meia da noite, quando o jantar tinha terminado, ele tomava seu conhaque e acendia seu charuto, uma maneira de prolongar a refeição e a conversa com seus interlocutores.

Gostava de romper protocolos, principalmente quando eles restringiam sua liberdade. Em 1945,se reuniu com o rei saudita Ibn Saud, cuja religião requisitava abstenção de álcool e tabaco. Churchill iniciou o encontro dizendo que sabia dos pré-requisitos religiosos de sua alteza, mas que a religião dele prescrevia como “rituais sagrados fumar charuto e beber álcool antes, durante e depois de todas as refeições e nos intervalos.” O rei aquiesceu. Mas depois preparou para o premiê um drink, que Churchill classificaria como terrível.

Os charutos também eram outra de suas paixões. Depois de uma viagem à Cuba, no fim do século XIX, aprendeu a complexidade dos puros. A crise de 1929 fez com que tivesse de se virar de vez em quando com charutos americanos, mas a ascensão ao cargo de premiê britânico mudou tudo, além de fazer com que ganhasse caixas e caixas de fumo cubano. Sua marca preferida era Romeo y Julieta. Chegava a acender entre oito e dez charutos por dia, mas não chegava a fumar nem metade deles; deixava grande parte apagar, o que permitia que mastigasse o fumo. O vício era tamanho que, segundo um de seus biógrafos, pediu para que engenheiros da Força Aérea Britânica pudessem confeccionar uma máscara especial que permitisse ele fumar a mais de sete mil metros de altura em um voo com oficiais. Uma vez o marechal de campo Bernard Montgomery disse ao premiê que não bebia nem fumava porque precisava estar 100% apto para a guerra. Ao que Winston retrucou de bate pronto: “eu bebo e fumo e estou 200%.”

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