Quem avisa amigo é: A viagem do Lés-a-lés

 

A viagem do Lés-a-lés
A viagem do Lés-a-lés
Lés-a-Lés é uma aventura anual mototurística que desde 1999 concilia a resistência física à vertente turística com o objetivo de cruzar Portugal de extremo a extremo contemplando paisagens e lugares. No mundo enológico, é a aventura dos enólogos Jorge Rosa Santos e Rui Lopes. Nasceu do desejo de recuperar castas antigas, regiões e estilos de vinhos esquecidos da terrinha.
Os 80 mil quilômetros que os dois percorrem anualmente há de anos por Portugal consultando vinícolas em diferentes terroirs portugueses despertaram a ideia de eles próprios vinificarem em amigos uvas compradas também de gente conhecida. “Cada rótulo conta uma história”, afirma, diz Rui Lopes, que esteve em São Paulo no início de outubro de 2024 para mostrar seus vinhos na Prowine.
Quando é hora de supervisionar a colheita e fazer os vinhos, os dois fazem o que com seus clientes? “Temos flexibilidade, temos mais de dez anos de parceria com os produtores com que fazemos consultoria”, diz Lopes. Num jantar, no huevos de oro, um ótimo bar de tapas em Pinheiros, tivemos a oportunidade de degustar brancos e tintos, elegantes e minerais, todos destinados à boa mesa.
A vinícola de Jorge e Rui nasceu com a colheita de 2016, mas o primeiro vinho foi apenas lançado em novembro de 2018 quando se comercializaram as primeiras garrafas. A escolha para os rótulos teve por base o desenho de um bilhete de trem, uma homenagem aos deslocamentos da dupla. Com pouco mais de 20 mil garrafas, sendo que cada um dos rótulos tem produção entre 3 a 4 mil garrafas, a dupla faz brancos e tintos que exploram uvas e terroirs menos badalados.
A viagem de Jorge e Rui começa no norte com um nome bem conhecido, um vinho verde da sub-região de Baião, feito da uva local Avesso. A próxima parada foi um arinto branco da região DOC Bucelas, que fica perto de Lisboa. Depois o Quinta das Marés com as castas Jampal e Vital de vinhedos ao sopé da serra de Montejunto, uma serra calcária na Extremadura. Depois outra parada: cerceal e malvasia fina, Távora-Varosa, de vinhedos nas encostas do rio Tedo, que desagua no Tejo, imortalizado pela sua importância e por Fernando Pessoa.
A estação seguinte é de tintos. O Medieval de Ourem da um vinho com uma história particular. Os monges da ordem cisterciense transmitiram a receita de fazer vinhos, aprendida na Bourgogne, aos portugueses séculos antes. Em abordagem e estilo, é semelhante ao Cuvee 910 de Vignes du Maynes, que também se assemelha aos vinhos produzidos no ano 910 pelos monges da Abadia de Cruzille. O “Medieval” consiste principalmente em uvas Fernão Pires (brancas) e Trincadeira (tintas) de vinhas que a ordem cisterciense plantou com variedades brancas e tintas. As uvas Fernão Pires maceram durante 24 horas e depois são transferidas para barricas de 500 litros, onde apenas 80% do volume é preenchido. Quando a fermentação do mosto branco está quase completa, o espaço vazio na barrica é preenchido com as uvas Trincadeira, que são maceradas e fermentadas durante 48 horas. A fermentação é realizada com leveduras indígenas e sem o uso de qualquer SO2 adicionado. É envelhecido em borras por 3 meses.
É a vez então do Vinho de Talha DOC Alentejo, um alentejano que une elegância e frescor, para pratos de carne. Fim da viagem é com o Montes Vinhas Velhas, com vinhas com mais de 100 anos, plantadas com mais de 15 variedades diferentes, principalmente tintas. A região montanhosa de Marão (entre Trás-os-Montes, distrito de Vila Real, e o litoral do Douro) abriga solos graníticos profundos. Essas uvas são meticulosamente colhidas à mão, sem separar as variedades branca, vermelha ou rosa, em cestos de vime de 25 kg. As uvas são então esmagadas e desengaçadas para fermentação em cubas de madeira de 1000 litros, onde passam 2 dias em maceração pré-fermentativa. É aqui que as uvas são pisadas a pé para extração suave com fermentação. O vinho é envelhecido em barricas de carvalho francês usadas (12+ anos) de 600 litros por 14 meses.
A viagem da dupla Jorge e Rui produz vinhos minerais, elegantes e gastronômicos que devem ficar no radar, unindo qualidade e ótimos preços em Portugal. Quando os dois enólogos tiverem uma cave própria para os vinhos, os resultados serão ainda melhores e os preços vão acompanhar. Quem avisa amigo é.

 

Rui Lopes

 

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