Velho mundo tradicional

Por Gerson Lopes

O último flight foi produzido com quatro vinhos excepcionais da escola tradicionalista do Velho Mundo. Dois franceses (Borgonha e Bordeaux), um italiano (Piemonte) e um espanhol (Rioja). Pelearam às cegas o DRC La Tâche 1978; Lafleur 1975; Bruno Giacosa Barbaresco St. Stefano 1978 e o CUNE/CVNE Viña Real Gran Reserva 1981.

Na preferência dominou totalmente o DRC La Tâche 1978. A safra 1978 é considerada mítica e provar este vinho raro e caro é algo indescritível por palavras. “Fora-de-série”, sensual e em um momento fantástico de prova. Neal Martin o provou em setembro de 2016 e previu maturidade de 2017 a 2030, e depois de tecer muitos adjetivos qualificativos sobre este vinho, deu-lhe 98 pontos. Gostaria de saber de onde subtraiu dois pontos para não lhe ter dado a nota máxima.

Já tinha visto o Lafleur 1975 perder em degustação às cegas para o Grange 76, porém, como na outra vez, se mostrou muito sedutor. “Lafleur é um dos vinhos mais distintos, mais exóticos e melhores – não apenas de Pomerol, mas do mundo” diz Parker. É a velha escola do começo ao fim. Pesadão na juventude por isso precisa de muita paciência na guarda. Longevo, “um vinho de 50 a 75 anos?”, perguntou Parker quando o provou em 2002, dando-lhe 98 pontos.

Alcatrão, alcaçuz, ervas secas, couro e mais alguns substantivos de um grande Barbaresco foi o que observei no Giacosa Santo Stefano 1978, apesar de vir de uma safra soberba que produziu vinhos extraordinários em estrutura e longevidade, este, porém, se mostrava um pouco “cansado”.

O que não aconteceu com o riojano, o CUNE/CVNE Viña Real Gran Reserva 1981, que chegou muito vivo à nossa prova. Feito pelo clássico corte de Rioja – Garnacha, Mazuelo e Graciano; escola tradicional até o osso! Gaveta de remédios, caixa de especiarias, frutos secos envelopados por uma bela acidez e taninos ainda muito vivos.

CUNE é a tradução inglesa de CVNE, que é a abreviação de Companhia Vinícola do Norte da Espanha, um dos produtores de vinhos mais renomados do país. Embora a safra de 1982 tenha sido a mais famosa da década de 80 em Rioja, a de 1981 é provavelmente a maior colheita da década, visualizando a perspectiva de bom tempo de guarda. Segundo Luis Gutiérrez, da equipe de Parker, “este é o melhor vinho dos anos 80, dominado pela Garnacha” e mais “… em um estilo Châteauneuf-du-Pape, não diferente de algumas safras de Rayas”.

Sábias as palavras de Fernando Pessoa quando disse que “tudo que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível” e foi o que aconteceu naquele dia (como nenhum outro) graças à generosidade de um confrade que promoveu este momento mágico em honra de um de seus netos.

Foi tudo muito fantástico, do começo – Champagnes Dom Pérignon P2 Vintage 1998 e Cristal 2004, ao meio (descrito anteriormente em três posts) e o fim – o Don PX 1946 Convento Selección, Bodegas Toro Albalá de Montilla-Moriles. Com certeza, o melhor vinho de sobremesa que bebi até hoje em minha vida, e tive a sorte de confirmar isso por três vezes em momentos diferentes.

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