Por Luiz Antonio Castro de Miranda Filho

O desejo de Pedro, o Grande fez o improvável se concretizar. Em um terreno pantanoso à beira do Báltico, ele resolveu erguer uma cidade que fosse uma nova janela para o mundo e mostrasse as reformas que ele implementava. Construída sobre milhões de ossos, segundo historiadores por conta das milhares de mortes de operários, São Petesburgo é a imagem da Rússia pré-revolução e da dinastia dos Romanovs, que comandaram o país por quase quatro séculos e chegaram a conquistar um quarto do planeta. Mas isso é assunto para Simon Montefiore em seu ótimo “Romanovs” e no excepcional “A Corte do Czar Vermelho”.

Sede de alguns jogos da Copa do Mundo, São Petesburgo recebeu dezenas de investimentos em novos hotéis e restaurantes. Depois de Alain Ducasse ter aberto um endereço lá abrindo espaço para os franceses, foi a vez de Clément Bruno, conhecido como o rei da trufa, abrir sua casa na cidade de Pedro (10, Admiralteisky Avenue – http://www.dombruno.ru/en/). O restaurante – que nasceu na França, mais precisamente na Provence, a terra dos rosés, e serve por ano quatro toneladas de trufas aos seus clientes em seus endereços – oferece um menu de quatro pratos e sobremesa, todos com os tubérculos mais nobres da gastronomia, a cerca de 250 reais. Vale a pena? Vale. No verão russo, as trufas vêm da França.

Ir à Rússia implica comer estrogonofe, ou melhor, stroganov, para eles. Sobre sua criação há muitas versões. Uma delas é do historiador William Pohlebkin, que acreditava que um dos mais famosos pratos do mundo ganhou seu nome em homenagem ao conde Alexander Grigorievich Stroganov. Sem filhos, o nobre convidava seus pares para jantares abertos em que eram oferecidas pequenas porções de pratos franceses e russos. Foi ali que teria surgido esse prato híbrido das duas escolas culinárias.

O endereço escolhido para comer o stroganov foi o Stroganoff Steak House (https://www.stroganoffsteakhouse.ru/en) , no centro da cidade e onde as barracas e estábulos do exército local ficavam antes da revolução. Achei bem gostoso, apesar das controvérsias de outros presentes.

Depois de uma dica de franceses que comemoravam a chegada da seleção à final, fomos ao Mur Mur (Rubinstein St, 4; reservas: smartreserve.ru), cuja vitrine já impressiona. Em vez de uma costela girando na brasa como no Fogo de Chão, várias carnes dry aged penduradas. Os pratos são cortados na frente do cliente, salgados ali mesmo. As costelinhas de cordeiro são tão suculentas que, quando cortadas pelo garçom na tábua de madeira, pingam. Dá água na boca. Ainda comemos uma excelente costela dry aged, mas a vodka me impediu de lembrar quanto tempo ela ficou maturando.

Tivemos tempo ainda de provar comida japonesa. Dessa vez no restaurante chique do hotel Four Seasons (https://www.fourseasons.com/stpetersburg/dining/restaurants/sintoho/). Os peixes são frescos, os sushis são bons, mas os preços são altos. Controvérsias de novo, eu achei uma roubada, ainda mais porque há um endereço caro, mas que vale à pena só pela vista: o bar/restaurante no topo do W Hotel (Voznesensky Ave, 6). Do deck, dá para ver a catedral de São Isaac, construída por outro Romanov, Alexandre I, que derrotou a invasão comandada por Napoleão Bonaparte em 1812. Mais uma aula de história.

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