Uma Bollinger, uma rabada, um Noval e a enogastronomia

 

Prefácio: “olá, como vai, tudo bem?” foi brindado com Rupert Leroy Les Cognaux, uma blanc de noirs de finesse e elegância, um contraponto à outra excelente blanc de noirs feita pela casa, a Papillons. Volnay e Chambolle em borbulhas?

Primeiro capítulo: amouse bouche, para despertar as papilas. Delicada mousseline com ovas de peixe voador. Quatro espumantes servidos às cegas e que estão numa faixa de preço imbatível para o confrade, que diz que toda vez que os bebe se questiona se tem algo melhor que eles nessa qualidade preço.

Degustação às cegas é um exercício de humildade e profunda ignorância, que só tem limite no dicionário. Os dez convidados tiveram preferências divergentes entre as quatro espumantes, que foram: o champagne de entrada de Lassaigne (importado pela Uva Vinhos), o Saint Anne de Chartoigne Taille (Anima Vinum), a Spécial Cuvée de Bollinger (MIstral) e uma intrusa: a italiana Mirabella, com sua Franciacorta Dom Riserva 2012, da Italy Import.

Pessoalmente, às cegas, minhas preferências recaíram sobre a Franciacorta, que em promoção saiu a R$ 450, e a Saint Anne de Chartogne Taillet, um destaque no catálogo de preciosidades da Anima Vinum.

Segundo capítulo: pâte en croûte artesanal, feito no restaurante secreto, que ganhou a companhia de Bota 110 de Equipo Navazos (Cave Leman), um elegante spatlese 2006 de  Becker (Cave Leman) e (de surpresa e às cegas) um Chassagne 1994 premier cru Chenevotte, de Charles Noëllat, no seu ponto para ser bebido. Por que o Jerez foi tão deixado de lado na mesa contemporânea?

E aqui vai um parêntesis, como um capítulo especial dentro do segundo: a entrada recebeu também a companhia sublime de uma Bollinger La Grande Année Rosé 2015 (Mistral), que já denota um leve toque de champignon no nariz, além de uma miríade de aromas e sabores, uma parceira perfeita para o pâte en croûte artesanal. Champagne de elegância, profundidade, persistência, substantivos que sempre aderem à Bollinger, que a vinifica em pequenas barricas à moda da Bourgogne, com adição de 5% de vinho tinto tranquilo. Aos afortunados, recomendo a compra de caixa. Chapeau. Claramente, um dos vinhos de um ano que mal chegou ao fim do primeiro semestre.

Terceiro capítulo, a coda al barolo, a rabada cozinhada por horas com um barolo 2017, que ganhou a companhia de romirasco 2004 de aldo conterno (o cru que é a base do grandioso gran bussia), um gattinara de travaglini e um bom e acessível barolo de luigi einaudi da safra 2013. A gordura do prato se molda com os taninos e a acidez da nebbiolo piemontesa, que paira no planeta vitis sem rivais.

Capítulo final, a sobremesa, um bolo de cenoura na versão americana (ao contrário da expectativa) que recebeu a escolta de um Quinta do Noval 20 anos, uma casa que o Nelson dizia pairar sobre as demais, sendo o seu Nacional o ápice do Porto. Há muitos portos no mercado, de sofríveis a grandiosos. Esse aqui é um gigante, com uma rara combinação de elegância e potência. Mesmo se pneumologistas proibirem o consumo de charuto, esse vinho é uma tentação para um segundo terço de um hoyo del monterrey double corona ou um cohiba talisman 2017 edicion limitada. O mestre ia gostar.

 

 

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